domingo, 16 de maio de 2010

Lembrança.

Estava sozinho em casa, sem ânimo e sem cigarros. Lá fora ameaçava chover, e um vento frio, quase que nem eu, entrava pela janela, despenteando-me os cabelos grisalhos. Sentia no ar a presença de poeira, muita poeira. E junto dela, uma solidão antiga, já quase domesticada. Senta, dá a pata, finja-se de morta. Ô solidão, solidão tão minha. Boa garota, receba meu afago. Falando em garota, lembrei-me daquela que foi minha. Aliás, que eu quis que fosse. Garota selvagem, sujava-se de lama e deitava-se no carpete. Mas que saudade veio-me ao peito. Mas que vontade veio-me as mãos que, sem meu consentimento, discaram seu número. Alô, disse meio torto. E a sua voz agora era tão outra. Estávamos bem, sim, estávamos. E a vida? Vai indo, não é? Mas então, o que você quer? Não queira nem saber, eu mesmo não quis. Antes de desligarmos, chamei-a para um café. Foi só para lembrar que não dava certo.

Um comentário:

Geovanna disse...

"E a sua voz agora era tão outra." aiaiaiai, eu gostei dessa frase, viu.