domingo, 23 de maio de 2010

Lábios.

Queria que eu levasse flores, mas nunca estivera lá para recebê-las. Queria andar de carro conversível, mas nunca dispunha-se a despentear os cabelos. Queria que eu fosse bilingue, mas nunca falava com o coração. Passa-me a carteira de cigarros, faça-me cafuné, sirva-me a bebida, e mandava feito eu fosse um cachorro. E eu obedecia feito fosse treinado. Fique um pouco longe, hoje estou acompanhada, e eu ficava a assistir. Pegava-me pelo braço - faltam-lhe músculos, não é? - apertava-me e eu estremecia. Vez em quando chegava pertinho, como se fosse contar-me um segredo. Apenas tentava-me o corpo, e eis que minhas pernas gaguejavam, e as palavras saíam tremidas. Vez em quando chegava tão pertinho, que nossas bocas encostavam-se. Seus lábios tinham o gosto de canela e pólvora.

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