domingo, 9 de maio de 2010

Feliz Aniversário.

Escutava o som desde a virada da esquina, aquele tchururu quase reconhecível. Ia caminhando lentamente por entre os carros mal estacionados, chutando as latinhas de cerveja que encontrava pelo chão. Parecia despreocupado vestindo aquele suéter bordô, passando os dedos por entre os fios de seu cabelo encaracolado. E ia assim mesmo, caminhando lentamente por entre os carros mal estacionados. Quando alcançou a escadaria que dava acesso para a porta, sentiu uma fadiga intrusa, feito um alerta, e encostou suas costas ossudas no corrimão. Alcançou o último de seus cigarros, mentolado, para fazê-lo esquecer-se de seu hálito azedo. Ansioso, esperou que cada uma das milhares de substâncias tóxicas queimassem. Apoiou-se em um pé só, coçou a nuca - era o que fazia na beira de um ataque de nervos -, e tornou a mover-se lentamente, agora subindo os degraus. Com calma, alcançou a maçaneta. Com medo, girou-a. E o tchururu agora era feito um amigo íntimo, e pôs-se a acompanhá-lo com as mãos. Olhou todas aquelas pessoas que, elegantes, sorriam no ritmo daquela intimidade. Olhou aqueles balões bem dispostos pelo ambiente, aqueles copos vazios, aqueles corpos pela metade. E no meio daquilo tudo ali, daquele nada aqui-dentro - pensou -, viu-a batendo palmas, gargalhando abobada e sendo admirada por vistas alheias. Aproximou-se com cautela, achando que talvez não fosse ser reconhecido por aqueles olhos debutantes, chegou perto de seu ouvido e disse desejar-lhe todo o bem dessa vida - doeu-se, por ser de todo mal.

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