quarta-feira, 24 de março de 2010

Sabiá Nada.

Não havia nada mais belo do que a barra de tuas calças molhadas de chuva, ou teu cabelo respingando de suor. Havia te conhecido num passado remoto, no qual passastes rapidamente por mim. Havia toda aquela coisa e aquilo tudo mais toda vez que te via. Sempre esbarrava contigo em sonhos, fazia questão de vê-la irritada, preocupada se havia amassado a camisa de seda. Adorava sentí-la enfraquecida e pequena quando gaguejava em público. Ria de sua incontrolável vontade de estar sempre intacta e engomada. Sentia frio ao escutar sua voz mansa, e teu suspiro ansioso. Amava teus fios de cabelo desgrenhados ao fim de mais um dia, e como disfarçava-os com um coque. De todas as vezes que tentei falar contigo, fingi-me mudo, ou tê-la confundido. E o desconcerto era só medo de virar e propor: Ei, vamos tomar um café?
E talvez, mais umas horas depois: Ei, vamos passar a vida juntos?

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