sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pétalas do Amor.

Enchi um copo de vidro com café, queimei a ponta dos dedos, assoprei com força, a fumaça subiu. É Segunda-feira, com cheiro de Domingo, e de chuva. No céu, restam resquícios de um sol de Sábado. É Segunda-feira, e o Domingo passou atropelado. Hibernei pelas últimas horas. Um sono iquieto, irritadiço. Mas sonhei, como fazem os imundos e os medíocres. Sonhei um sonho que, na verdade, era só mais um. Um sonho com você. No qual você ia embora, se misturava com as cores das paredes de um corredor imenso. Se misturava, e ia embora. Sem que restassem rastros, ou lembranças. Acordei abraçado por gotas de um suor frio, um choro solitário libertado pelos poros. Foi há muito tempo atrás a última vez em que toquei em uma folha de papel. Mal me lembrava da textura. Ou da agonia de ser encarado por um infinito em branco. Foi há muito tempo atrás que escrevia poemas de amor, e punha meu peito frente aos canhões, e pulava de pontes, e enfrentava o mundo, e era forte, e grande, e completo. Os anos passam rápido, dizem. E, agora, eu concordo. Aconteceu do tempo passar supersônico, e hoje sermos outros, sem sequer percebermos. O rumo que tomei foi frio e escuro. À procura de qualquer sinal de calor ou toque. E existiu a perdição, pelas curvas. Dos corpos morenos de verão. Dos olhos desejosos de carinho. Dos lábios carnudos. Explosão, uma explosão de cores, pêlos, saliva, cheiros, secreções, anseios, desejos. Cheiro de corpo, de contato, de sangue, de estrago. E doses lascivas de paixões passageiras, de transas indiferentes, de beijos salgados de lágrimas, de agulhas, e perfurações. E morte, e convulsão, e desejo, e overdose. Estou sobrevivendo. Não lamento sua partida, foi quando me encontrei inteiro. Mas tenho umas confissões a fazer. As pétalas do amor nascem e caem. Envolto no odor restante de vodka e perfume e fumaça, tentei resgatar. E imerso em pensamentos e resgaste eu já não mais sabia o que era memória ou imaginação. Se as coxas que toquei e arranhei ainda eram as suas ou de uma outra que passou por minha frente de repente e mais de repente ainda estávamos deitados no banco de trás de um carro de alguém que eu sequer conhecia jurando juras de um amor imaginário e cobiçado. Porque hoje em dia dá vontade de ser amado de novo. Se é que um dia fui, porque suas palavras no final não eram mais do que nada, um grande teatro e eu deveria ter te aplaudido de pé. Falo como quem ainda estivesse com a ferida aberta e não soubesse como estancar o sangue, e esse sangue que sangra já não é mais puro, mesclado com qualquer coisa, qualquer coisa que entrasse pelos canos ou pela boca ou por qualquer buraco e se não existisse algum eu inventava, só para que alguma coisa entrasse e diminuísse o peso e eu flutuasse. O maior sonho do homem é voar. E eu voei com as mais belas asas por cima de tudo e de todos por cima de mim e de você e eu tento me lembrar, mas é vaga a lembrança. Feito um trauma eu não te lembro mais, e ninguém toca nessa parte que pertenceu a você. Um tal de coração ninguém toca nem se aproxima ninguém chega perto, todos fogem. Porque minha reação é violenta e ninguém entra tanto assim. E quanto eu digo que já te esqueci todos acreditam porque eu disfarço também lambendo outras costas e chupando mais uma e mais outra parte e me arrebentando fraturando ossos ferindo os tendões envelhecendo e me desgastando, à procura. De mim porque eu me perdi, de mim mesmo. Assustei ao ter me encontrado porque eu antes era um herói e agora sou fúnebre esquelético. Era outro corpo comigo. Não era você que um dia foi. Foi meu corpo e depois fantasma lembrança saudade falta. Sentir sua falta é sentir que não sou mais o mesmo nem sei mais quem fui. Quem foi foi você pela porta da sala para nunca mais. E eu me entrego à mais sutil possibilidade de ser grande de novo. E eu aumento de tamanho dentro de outros corpos. E me gostam e me gozam e me curtem e me amam e eu encolho. E tudo acontece novamente, em um outro corpo, uma outra madrugada, um outro espaço, uns outros beijos, e afagos e desejos. E tudo vai acontecendo e eu mal consigo acompanhar. Acendo um cigarro e uma chama em alguém e em mim que ninguém apaga, porque a fome é de você. Deito, respiro, bebo, fumo, transo, suspiro, gemo, fodo, tudo fode, tudo acaba. Você não volta e eu vivo esperando. Não consigo mais esperar, nem respirar. Nem qualquer coisa. O céu parece estar pegando fogo. As folhas das árvores se movimentam brutalmente. Uma sombra invade a janela. Não tenho aguentado viver assim e fujo, da luz, qualquer luz. Fujo e me escondo nos buracos. Eu não entendo o que essa folha está querendo me dizer, toda rabiscada. Eu querendo te dizer tanta coisa, com minha voz rouca, de tanto fumar e gritar e soluçar. Está acabando meu fôlego e a tinta da caneta. Você nunca lerá isso, eu nunca deixaria. Confissei feito um pagão, e você não tem nada de santo. Eu não tenho nada de nada e vamos acabar logo com isso. Eu só quero amar enlouquecidamente de novo, e poder olhar em outros olhos e dizer que são meus, porque quero e não porque se entregaram. Sua presença vive me assombrando. É dela que eu fujo. Eu não quero fugir mais, você precisa me deixar ir. Eu não te quero mais e nem você quer a mim. Não me deixe preso nem sozinho nem aqui. Não aguento te enxergar em tudo nem em todos, em todo corpo que eu toco o toque é seu. Por favor, se vá. De verdade ou então me deixe ir. Não quero mais amar um amor que virou loucura. Eu quero amar um amor que seja meu. Eu preciso que você vá eu preciso me entregar para alguém. Não me prenda.

Um comentário:

Diego Nathan disse...

me escolhem e eu encolho
me comem e eu me como
me fodem e eu me fodo
tem alguma coisa errada com a matemática ou com a balança