terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Fênix.

"A felicidade tem a ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que não me falta nada, ou quase nada".

Você irá embora, eu ficarei, tudo ficará. Tudo começou com um sorriso embriagado, uma troca de palavras tontas, e um beijo, seguido de outro, e mais outro, até que não pudéssemos mais parar. E fomos parar na cama. Não fazia calor, também não se tratava de um dia frio. Não iria chover, mas o céu exibia uma porção acolhedora de nuvens. Você usava uma saia rodada, os cabelos presos por uma fita, ensaiava algumas falas, porém as guardava para si mesma. Eu? Eu não importava, nem me importava. Estava focado nas dores de um outro amor que, há pouco, havia se tornado vazio. Você era a minha mais nova distração. Um porre para fazer arder as feridas do lado de dentro. As coisas tomam dimensões inesperadas, e nem tudo corre como planejado. De repente era eu apaixonado por você, e não o contrário. Eu sendo seu maior delírio, e você sendo meu maior erro. Porque eu poderia jurar que não havia nada de espetacular ou hipnotizante em você. Nem seus olhos, nem suas mãos, nem suas palavras. Naqueles dias em que me vi encurralado, não haviam noites. Nem noites. O dia era um prolongar sereno da inquietação do desconhecimento. Eu desconhecia o que quer que fosse que havia conseguido me tornar seu. E não o contrário. A luz do sol me cegava, junto a uma outra luz que saía de você. Um show de luzes disparadas do céu. Era lá mesmo onde você se encontrava. No inalcançável infinito perante meus olhos. Você irá embora, e nada eu poderei fazer a respeito. Estou aqui, parado no meio da rua, assistindo os carros passarem, tentando decifrar a história dentro de cada um deles. Atordoado com a minha. A minha história que tentei dividir contigo. Ciente da disparidade de vontades. O que eu preciso para conseguir uma bebida nesse lugar? Sentado, de frente ao balcão, encarando as garrafas de vidro, com a camisa suada por debaixo dos braços, o bafo quente de cansaço e cigarro. Eu não teria visto se não me contassem que eu estava acabado. Você aconteceu como um furacão, e sem que eu previsse, eu estava devastado. Nada de tão grandioso havia acontecido na minha vida até então. Nenhum outro clímax, ou êxtase, nenhum ápice de alegria, ou queda. Falam das flechas e dos cupidos, mas se esquecem da dor e da ferida. Das fibras da pele que se rompem, do desmaio. Porque parece mesmo um desmaio quando, em um segundo você é um, e em outro, você é de outro. Eu era de alguém, antes de você. Era, como um filhote treinado para seguir o dono, mesmo sem coleira. Que urinava e defecava nos lugares certos, que estava lá para dar amor sem fim, para levar bronca sem começo. Esse amor anterior foi embora, como vão todos os outros. Como logo você irá. Carregando suas tralhas no caminhão de mudança, olhando para trás para ver se não esqueceu de nada - ainda assim, se esquecendo de mim -, seguindo para um novo apartamento, frio, branco, vazio, com cheiro de mofo, sem nenhum outro corpo - por um bom tempo, espero. E eu ficarei neste mesmo bar, a tentar ignorar nossa separação, a tentar não me lembrar de você a cada vez que um segundo passa - porque tudo me leva a você -, a tentar aceitar e seguir em frente, sem me mover. Sem nenhum movimento. Porque, quem sabe, uma hora, você não volta, e me diz que foi só um susto, que eu posso voltar para a superfície, e respirar. É como se alguém estivesse apertando meu pescoço com os polegares, batendo minha cabeça na parede, com a intenção de me desacordar, até que, tempos depois, eu renasça, como uma fênix, direto das cinzas, como se nada tivesse acontecido e, tudo tivera sido, somente, um pesadelo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ju, aaaaaaamo seus textos. Mas gostaria que você escrevesse algo mais feliz, algo sobre um amor realizado. Será que você consegue?

Anônimo disse...

Quer ser feliz? Vai pra disney.

Anônimo disse...

Parabés! Você escreve tão bem, e quando leio é como se estivesse vivendo aquilo... Como consegue? Tudo tão lindo! Mais uma vez, parabéns!

Julianna Motter disse...

Muito obrigada pelos comentários! Tentarei escever algo mais feliz...