terça-feira, 14 de setembro de 2010

Voltei.

Andei por todos os caminhos, andei sim. Toquei peles mais escuras, lábios mais recheados. Ajudei-as a tirar de roupa, a encaixar-se em minha boca. Andei trocando as pernas, com o gosto de vodka, saliva, hortelã, e secreções das mais diversas. Precisei passar por tudo isso antes de voltar. Não, não precisei, mas eu quis. E serviu como experiência. Enfim, eu disse que nunca mais apareceria na sua frente, e é por isso que estou assistindo você de costas: pegando um pequenino orelhudo no colo e colocando-o no balanço. Deve ser seu filho, aquele que você chamaria de qualquer coisa excêntrica que não me recordo mais. Já estou aqui há duas horas, sem que você perceba. Vi quando o moleque sujou sua calça jeans e você soltou um palavrão. E todas as consecutivas vezes em que você olhou para o celular. Fico aqui parado, e enquanto isso você se prepara para ir embora: cata todos os brinquedos, arruma a blusa e vai. Espero aqui por mais umas três horas. Ainda parado. Fico parado no grau zero da saudade: aquele grau em que não sei se te toco, ou se te esqueço logo de uma vez. Aquele grau em que não sei se te toco porque pode estar dormindo ou por estar tão longe. Aquele grau em que não sei se te esqueço porque não sei se quero ou porque sei que não consigo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Corri por aí, por caminhos vários e, como você bem me conhece, coberta de medos. Não importa-lhe muito a minha vida sem você. Cinco anos. Se acreditas, penso em você todas as horas do meu dia. E dói-me pensar que ainda faltam muitas horas em minha vida. E confesso: te vi, hoje, quando estava para sair do parque. Te reconheceria de longe, te sentiria mesmo que não tivesse perto. Tremi as pernas, pisquei os olhos, e fui-me embora. Na verdade, pensei, durante muito tempo, como reagiria se te visse, e até simulei algumas reações, mas hoje, você me olhando de longe, como quem ainda não esqueceu - tanto quanto eu não o fiz -, a minha única reação foi ir embora.

Já fazem cinco anos que não te esqueci, sem entender o porquê. E hoje percebi: não quero esquecer.

[gostei muito do texto; a resposta veio como impulso que não quis conter, e decidi comentar.]

Julianna Motter disse...

Ainda bem que comentou. A resposta veio como impulso, um belo impulso. Muito bonito, de verdade...