sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tudo Era.

Enquanto você ficava me dizendo que o problema era comigo, era com a gente, que não havia outra, que nunca houve, eu imaginava a vadia deitada em uma cama de hotel, esperando que você retornasse com boas notícias: agora-sou-seu, e estourasse o espumante barato que segurava entre as pernas. Imaginava a vadia experimentando minhas roupas enquanto eu estava naquela conferência em Moscou, alisando os pêlos de nosso buldogue francês, virando os porta-retratos para baixo por "respeito". Calculava os anos que se passaram desde que nos desentendemos pela primeira vez, para deduzir há quanto tempo estava com ela, ou quantas outras vieram antes, e o motivo pelo qual ela se tornou tão especial. E enquanto eu ia pensando, e imaginando, e entrando cada vez mais nos cantos escuros de mim, você continuava discursando: eram os trilhos, e o trem, e o descarrilhamento, e a via de mão dupla, e de repente a contra-mão. E você me pediu atenção, foi quando eu derrubei o bule de água fervente, e amaldiçoei sua família por gerações, feito minha raiva tivesse conseguido se ver na eternidade. E sem que eu pudesse evitar meus olhos derreteram em lágrimas, e meu corpo amoleceu. Você me tomou pelos braços, passou a mão por meus fios de cabelo, e com sua voz aveludada tentou dizer que estava tudo bem. Parecia certo disso, mas a imagem da vida sem você não me fugia da cabeça: seriam dias sem sol, noites trancadas no apartamento, você e a tal mulher desfilando de mãos dadas aos Domingos no calçadão, eu assistindo da varanda - mesmo morando há três quarteirões da praia em um apartamento virado para o centro. E de repente tudo era medo. E de repente tudo era medo. E de repente, tudo era medo.

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