terça-feira, 21 de setembro de 2010

Saudades.

Não entendo, quando me distraio, vem forte a saudade. Uma saudade maleável, feito massinha de modelar. Saudade que toma feição de um, e depois de outro. Que me leva aos descontrolados dezesseis anos de idade, aos calmos setenta e oito verões. Saudade do que passou, e também do que virá. Penso na infância, nos vinte dois assentos de uma sala de cursinho de inglês, e de repente a saudade toma conta de dois ou três rostos conhecidos. Vem aquela vontade de vê-los de novo, da forma que eram, sem a pressa de hoje. Lembro do carinho, da inocência das primeiras palavras fora da língua materna. Depois penso na escola, na jovialidade e incandescência dos primeiros amores: os beijos roubados, inexperientes, mas sinceros. A saudade penetra, circula pelas veias, rega os olhos, e dói. A gente sempre quer voltar, a gente sempre quer voltar. A saudade às vezes parece até doença, uma doença contagiosa, que é transmitida pela boca. No boca-a-boca a saudade flutua: você-se-lembra?ah-como-era-bom! E a gente sempre quer voltar, a gente sempre quer voltar. Mas se eu voltasse, seria para rever todos os rostos, sem as marcas de expressões que hoje exibem, livres de todas as amarguras que hoje carregam. Eu voltaria apenas para tê-los imunes de novo. A saudade não é arrependimento. E enquanto, agora, eu acendo mais um cigarro, eu daria tudo para estar sentado em mil novecentos e sei lá quando, chupando um pirulito e jurando que seria assim para sempre. A saudade é maleável. E também é minha.

2 comentários:

Nayla disse...

Me deu vontade de retuitar o texto inteiro, haha.

Marina disse...

Pensa só, de certa forma, em mil novecentos e sei lá quando, enquanto você chupava um pirulito com gosto de infância, você realmente não imaginava que aquele momento fosse acabar.
Esse momento que você anseia agora está dentro de você, ainda que meio perdido dentro de todas as lembranças. Dá pra tentar resgatá-lo como num sonho, que a gente revive com prazer e lembra até do gosto.

Enfim, adorei o texto. Acho que a grande parte das pessoas é meio cheia de saudades e nostalgias. Comigo não é diferente. Elas me consomem.