domingo, 12 de setembro de 2010

Sombra.

O sol despencou e bateu no topo da sua cabeça. E um eu-te-amo-vai-ficar-tudo-bem não foi o suficiente para sanar o descontrole. Você deu para beber, desacreditar em Deus, quebrar copos e lamber seu próprio sangue. Você quis me pedir ajuda, mas quando se lembrou do idioma que falava, acabou por desmaiar em cima do próprio vômito. A lembrança que tinha de seu rosto fino não incluía feridas em carne viva, nem cuspe. Eu te tinha na memória como um anjo moreno, de olhos e lábios brilhantes, mãos delicadas e pés pequenos. Não posso dizer que doeu te ver assim, porque em meu lado mais obscuro, eu já quis até te ver morta. E ao mesmo tempo, no restante de amor que ainda vivia, quis te ver morta para que eu mesmo te ressuscitasse. Porque vai ver, assim, você acordasse e se lembrasse dos sonhos, antes de você os raptar e realizar com outros. Não é o momento para falar de mágoas, o passado não condena, e não vai te condenar, ele apenas me sufoca. E você está aí, na mesma situação que eu, sufocada por sua própria bile. Enfim, não importa. Minha mãe me dizia que se paga sempre na mesma moeda, mas deitada aí, você não parece sentir dor. O que traz às minhas pernas uma vontade de chutar sua cabeça. O que pouco adiantaria, pois a dor só viria quando você, enfim, acordasse. E a dor que eu senti, eu senti até dormindo. Você não teve piedade, nem por um minuto sequer. Eu sei que agora você mesma se condena, pagando pena de morte-vida, se arrastando pelos buracos da cidade, deixando a cidade toda se esfregar em seus buracos. Sabe, se eu fosse um pouco mais altruísta - embora um dia você tenha me dito que altruísmo vem do mesmo lugar que os príncipes encatados -, eu apoiaria seu rosto em meu colo, e tentaria te acordar calmamente. Mas infelizmente, o que me resta fazer, é fechar mais uma vez essa porta, e fingir que nada aconteceu. Porque é, você nunca aconteceu para mim. O que eu vivi, com ou sem tigo, foi um pesadelo. E agora é sua vez de acordar desnorteada. Cuidado com as escadas e ande pela sombra, sombra minha.

3 comentários:

Anônimo disse...

*.* Que lindo o jeito que vc escreve, toda vez que eu entro aqui quando vc posta no twitter, são emoções diferentes no qual eu sinto lendo o seu blog...Continue assim que serei uma das primeiras a comprar seu livro , caso vc queira escrever um....

Parabénssss e beijons

Julianna Motter disse...

Agradeço pelas palavras, de verdade.

Anônimo disse...

Tão lindo que tira as palavras.