quinta-feira, 9 de setembro de 2010

http://apaixonar-seasos.blogspot.com/

Apesar de toda a sua beleza, do que mais sinto saudades é de seus pés sujos depois de passar o dia andando descalça. Não sei o que me vem à cabeça, o que me dá no coração, mas a falta vem mesmo de todos os seus quase-defeitos, e de tudo aquilo que deveria te levar para longe. Sempre disse que me incomodava seu descaso: eram os vestidos mal passados, as meias manchadas, a falta de abraços apertados durante o sono. Hoje, são coisas que me passam pela cabeça, atravessam a memória, dando piruetas e calafrios. E que, surpreendentemente, me trazem sorrisos. Todos muito tristes, pelos motivos que um dia te disse. Eu que te coloquei para fora, então sua ausência me tem como causa. E toda essa tristeza e malemolência como consequência. Não que eu ande perguntando por aí, mas sei que você está bem. Não sei se casou, se já passou por três divórcios ou se agora tem um par de crias em um internato suíço. Sobre essas coisas eu nunca perguntaria. Claro que queria saber, mas sei que, ainda hoje, doeria. Se está casada: que merda. Quero dizer, que bom, que ótimo, que felicidade, meus parabéns! Que ele cuide muito bem de você, e não se esqueça de alisar sua nuca no frio. Se já passou por três divórcios: boas notícias. Talvez não para você. Um dia eu te disse, cheio de segurança, embriagado depois de uma garrafa de conhaque, eu te disse, você se lembra? Disse que eu era não só o homem, mas o amor, da sua vida. E isso não prova nada mais, espero. Se agora você tem mesmo um par de crias em um internato suíço: decepcionante, minha querida. O que aconteceu com os verões na Sicília? Aquela educação toda consciente: plantando árvores, aninhando coelhos, comendo chuchu e separando o lixo orgânico do lixo sei lá e do lixo sei-lá-mais-o-quê? Enfim, se sim, só posso te pedir que se acalme: a vida é dura, isso eu sempre te disse, até mesmo sóbrio. Posso não ser o pai, não aguentar as pestes correndo pela casa, mas tenho vontade e espaço. Além desse carinho todo por ti. Digo carinho para não parecer desesperado. Mas o desespero já está aqui. Não tenho merda de carinho nenhum. Tenho todo o amor do mundo! E todo o arrependimento! E toda a saudade! E toda a culpa! Uma culpa filha da puta, por saber que quando pude te segurar pelo braço, e encostar seu corpo no meu, e pedir para que ficasse, preferi segurar uma garrafa, e pedir para que jogasse no lixo, ali bem do ladinho da minha vida.


Do blog: http://apaixonar-seasos.blogspot.com/

2 comentários:

Geovanna disse...

dentre os últimos esse tem sido o meu preferido, é gostoso demais, demais, demais, ler e reler, como pode?

Geovanna disse...

"...do que mais sinto saudades é de seus pés sujos depois de passar o dia andando descalça..." hahahaha, sei lá, me identifico, viu.