quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tortura.

Há três dias a televisão parou de funcionar. Chuva, alagamentos, carros-bote e o Botafogo jogando no Brasileirão. A maldita parou pouco depois de um raio. Culpei-o e disse: volta já. Não voltou não, e desde então fiquei rodeando-a, ia atrás dos fios, olhava-os com aquela cara de sei-do-que-precisam, mas aí pareciam tão bem, sem precisar de nada. E aí sentava-me no sofá, e ficava encarando-a com aquela cara boba de já-já-volta-a-funcionar, depositando toda a esperança do homem brasileiro. Não voltava, não voltava, não voltava, e eu lá, pagando por todos os meus pecados, vai ver fosse isso mesmo, pensei. Cansei de esperar, e o microondas cansou de estourar pipocas. Deixei toda minha masculinidade de lado e chamei o técnico. Das dez às quatorze ele apareceria, e fiquei lá, na esperança de que minha esperança bastasse para a maldita! Apareceu já eram lá para as dezesseis, tinha meio metro a menos que eu, barba que nem a de um moleque, feriu minha masculinidade ao dizer que era coisa boba. Bobeira porra nenhuma! Mas resolvi conter as palavras. Andou, seguiu os fios, segui-o logo atrás e...nada. Faltava uma peça, voltava mais tarde, entre as dezessete e as vinte e duas. Tá bom, espero. Passaram dez minutos e outro chega. E aí, vovô! Dá conta do recado? E não é que deu, depois de muito ouvir estralar as costas, certinho. Obrigada e até nunca mais, espero. Lá fui eu, todo dengoso pedir arrego para o noticiário. Não funcionou. Espera aí, não funcionou?! Foram três socos na parede, uma tigela de cerâmica arremessada, por quê, Deus? Por quê? Eu não merecia a tortura, era assim que eu pagava por tudo? Todas as vezes que disse amar somente para tê-las de pernas abertas, todas as vezes que disse ter sido um prazer só porque minha carteira não chegou nem a ser aberta, todas as vezes que cuspi no leite do meu irmão, era por isso que eu pagava? Era assim que eu pagava? Desculpa, mas eu esperava um pouco mais de piedade...

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