sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chef.

Gostava de vê-la na cozinha, tão ágil e concentrada, ignorando minha presença ali. Acendia a boca do fogão, punha na panela umas gotas de azeite. Esse trouxe da Argentina, dizia encantada. Os olhos brilhavam, e voltava a ignorar-me. Observava-a ficar na ponta dos pés para alcançar os dentes de alho e o açafrão, parecia muito mais menina do que era, e um pouco mais frágil, fazia parecer que precisava de minha ajuda, de minha altura, de meus braços longos para alcançar o que queria. Mas não, apoiava-se na bancada, desdobrava-se feito uma bailarina, e alcançáva-os com um sorriso ganancioso. Remexia-se, ia de um lado para o outro. Sonho meu era acompanhá-la sempre naquele trajeto desengonçado, e poder alcançar seus cheiros e temperos, e poder beijá-la suja de molho de tomate, e poder abraçá-la cheirando a canela, e poder embalá-la para viagem. Apressava-se com a água já fervida. Moía - toda pequenina - aqueles dentes de alho, e moeria, mais tarde - um pouco maior - aqueles meus sonhos.

3 comentários:

Débora Carvalho disse...

nossa me identifiquei muito com esse! simplesmente adorei! ;D

Rafaela disse...

Sensacional, muito bom mesmo. Parabéns!

cora disse...

awesome. eu entro no seu blog todo dia, cara, ou ao menos sempre que me lembro que ele existe. seus textos tem uma dosagem ótima de simplicidade e uma agudeza de espírito que não cabe descrever aqui. não para.