quinta-feira, 8 de abril de 2010

Revolução.

Fernanda punha três pimentas no fundo do prato, gostava do ardor. Fernanda era ele próprio, e ardia-me nos lábios roxos de frio. Nos fins de tarde, em que sentávamo-nos no gramado para discutir política, apertava-me a nuca com sua indignação adolescente, e aquilo era minha felicidade. Suas mãos, lisas e avermelhadas, pesavam-me leves nos ombros. Dizíamo-nos inimigos do tempo, e soberbos, fingíamos que ele não levaria-nos embora. Ainda lembro, com algum aperto e muita saudade, de sua barriga despida fazendo ondas em meu corpo-oceano, de sua pele fria eriçando meus pêlos. Fernanda era minha felicidade. E agora, sentada na mesa ao lado, ela era minha saudade, só minha. Minhas pernas, peludas e frágeis, tomavam a coragem de levar-me até ela, só para fazer-me notado, e para que, meus lábios, agora beges de idade, sibilassem um cumprimento meio o-tempo-fez-lhe-o-bem-que-eu-não-pude-fazer. Fernanda, perdi pelo tempo, descuido confessado. Estava eu, moreno e cheio de fôlego, pronto para uma revolução, quando deixei-a de lado. E como desejei nunca tê-la deixado...mas o tempo existia, e minhas pernas eram poucas para confrontá-lo.

Um comentário:

Anônimo disse...

cumprimento, não?