segunda-feira, 22 de julho de 2013

Três atos inatos

Quando se é e se acontece:
Me apaixono de maneira muito fácil.

Por qualquer coisa - que fique ou passe.
Pulsante ou inanimada.
Existente 
palpável
ou não.
É algo necessário.
É como uma condição para sobrevivência:
é respirar
se alimentar
hidratar
assear.
É isso:
apaixonar-se é um tipo de limpeza.
Se solitariamente,
espiritual.
Mas ainda melhor se física.
É deixar de lado o feio
- em nós e que nos achamos no direito de ver em outros.
Para estar mais limpo
puro
livre.
Apaixonar-se é como
aceitar
e constatar
que nada é só isso
e que tudo pode ser - e é - muito mais
que uma coisa só.


Quando se é e se entrega:
Deixe que te beijem o silêncio.
Que te atropelem a calma.
Pois há saudade
tristeza
monotonia.
Uma parte do ser
que é o todo de um 
passado.
Deixe-se ser
enquanto 
sejam
ao seu lado
ao seu dentro
de uma mesma
maneira,
nada censurável
nem vergonhosa.
Que sejamos todos
quando em nós mesmos
quando em outros
sempre
tão
indizivelmente
humanos.


Quando não mais se é e se acaba:

Estou sentada 
num café
em algum lugar
no meio do caminho
de casa.
Você está sentado
em algum lugar
num café
no meio do caminho
de casa.
A gente não sabe disso.
Hoje,
a gente mal se fala.
A gente mal se olha.
Mas ainda se abraça
quando chega
em casa.
Quando chega
a madrugada
e debaixo dos lençóis,
ainda sentimos frio.
A gente ainda se abraça quando
algum de nós se sente perdido.
A gente sempre
se encontrou
no escuro
e no vazio.
Hoje,
a gente senta
no meio do caminho
a gente toma um café
para não ter que chegar,
para não ter que abraçar
e descobrir
que não se aquece
não se encontra
não se está
mais ali.

Um comentário:

Geovanna disse...

uau!!!