sexta-feira, 26 de julho de 2013

Curto ensaio sobre a saudade

A saudade:
que é de cada um
que é lugar comum...


Quando a senti:
Pouco me resta de ti.
Um par de meias velho.
Uma escova de dentes
sem dentes
para escovar.
Uns vídeos
e fotografias.
Correspondências
e contas a pagar.
Pouco me resta de ti.
Porque se foi.
Se foi de mim.
Depois que foi em mim.
Depois que fomos um no outro.
Um ser sendo,
em partilhas
e parcelas.
Até não ser mais.
Até quando não foi.
Até quando não deu.
Quando olho,
não sei se fora
amor
ou deslumbramento.
Quando olho,
você agora,
já do lado de fora,
não sei quem foi.
Nem sei se fui.


Quando a descobri:
E no final,
nada dito
ou feito
fez ou fará
sentido.
E nem o dirá.
A saudade é um ser
onde não se
parece
estar.
A saudade são
os olhos
que oscilam
entre o aqui
e o acolá.
Como doem as coisas
que a gente finge
não sentir mais.
No dia que eu não tiver mais
medo
de olhar,
nesse mesmo dia,
que eu não tiver mais medo,
saberei
se estamos
onde devemos
estar.
Como doem as coisas
que se perdem
de lugar.
A saudade é a linha
entre
o vamos um pouco mais
para frente
e o já não dá.


Quando a admiti:
Ontem eu te abracei
para dormir
e você nem
imagina.
Acordei
e sua ausência
estava lá.
No calor
deixado pela cama.
No calor
de um corpo
acabado
de se ausentar.
No calor
que eu quis
imaginar.
Depois, fiquei querendo te ver.
Ver se me via em você.
Querendo saber se
ainda estava lá
- eu e você.
Se ainda tinha um lugar.
A saudade é o verbo
que não se pode
conjugar.
A saudade é ponto.
E nunca final.

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