segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Passarinho.

Chuva: existia a chuva, o silêncio e o tempo. Chuvasilênciotempo: tudo aquilo que vibra. O coração lateja - quase falha. Eu forçaria um encontro, um oi-tudo-bem?-como-vai-a-vida? Pra que você me devolvesse a pergunta, e eu ficasse calado, meio sem-resposta, meio com-a-resposta-na-ponta-da-língua. E me segurar, e me soltar - soltar os demônios amargurados, na verdade -, e dizer: que vida? que vida? que vida eu poderia ter tido depois daquele dia em que você foi embora? Dizer isso e mais alguma outra coisa, e esperar que você me olhe coberto de pena e raiva. E eu sinta culpa. Culpa, muita culpa. E dor, mas não tanta. Culpa por não ter fodido contigo mais um pouco, de não ter arrancado seus olhos, de ter perfurado mais fundo o seu peito. E eu acabar sentindo um arrependimento, e pensar em como poderia ter enfiado sua cabeça cada vez mais nesse buraco. Nesse buraco que você mesmo criou. E quis me colocar lá dentro: tentou, como tentou. Tendo firmado bem esse sorriso cínico ao rosto: todo o dinheiro do mundo para acertar com um tapa sua cara. Com um tapa pesado - tal qual o meu ódio-amor-ferido -, que te deixasse tão vermelho que, em cada um dos seus poros, eu pudesse enxergar as gotículas de sangue querendo escapar. O que eu mais quero é te ver sofrer! Quero seus joelhos arrastando no asfalto, seus dedos moídos com a cana: seu brilho, quero que ele acabe. Acabe e forme chuva: vire lama. Quero que você venha aqui, sabendo de tudo. Serias perfeito se fosses surdo. Pode escutar, pode brigar, pode gritar, pode me querer. Porque eu sei que ainda quer. Porque nada muda. Até agora nada mudou. E se fosse por respeito, já teríamos acabado com tudo. Eu teria acabado com sua vida. Não que você tenha acabado com a minha. O que eu falaria no nosso encontro é apenas exagero. Eu mais abriria meus braços, e te compararia às lembranças. Pensaria como-estamos-envelhecidos, e meu corpo se abriria de repulsa ou desejo. Tudo depende do que depende da gente, e veja só, meu doce, como estamos crescidos!
- E você tem barba.
- E você usa salto.
- E você se acaba.
- E o maior risco que você corre é falando alto.
- Na biblioteca.
- No cinema.
- Em tudo me lembro.
- Em tudo te vejo.
- Sofrimento é eterno.
- Que seja eterno-até-que-cure.
- Eu poderia esperar mais uns mil anos.
- Eu não pude ficar por mais dez segundos.
- Perdão.
- Já é tão tarde.
Mesmo fazendo sol, existirá a chuva, o silêncio e o tempo. Há tanto tempo nos demos tempo.
- Vê se volta, meu doce.
- Quando na verdade eu nunca fui.
- Perdão por ter te mantido preso.
- Enjaulado.
- Dizem que isso é amor.
- Quando amamamos voamos como pássaros.
- E o tempo voa que nem sente.
- Sinto muito.
- Sinto mais.
- Devo ir.
- Perdão.
Leve. Estou leve. Leve embora. Embora doa. Doa um pouco de si, que eu já te dei tudo de mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

...não pare de dar tudo de vc :)
dê mais...sempre dá PRA DAR:)

Anônimo disse...

imparato molto

Anônimo disse...

molto intiresno, grazie