quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ao que o tempo leva e o vento traz

If you don't shoot it, how am I supposed to hold it?

Eu não me esqueço da mochila. Você a carregava para todos os lugares. E ela carregava sua vida inteira. Quando você a colocava nas costas, nada mais te prendia. Nada te mantinha.
Uma muda de roupas, sapato, perfume, um caderno de confissões, calculadora, escova de dente, Esboço de uma Teoria das Emoções, perfume, meias, biquíni, sabonete – mas sempre esquecia a toalha.
Você era toda entregue ao mundo. Abocanhava a tudo com os olhos. Não colocava primeiro o pé para saber quão gelada a piscina. Arrancava as roupas - se possível, todas elas - e saltava em um segundo.
Um piscar e só restava seu cheiro.
Quantas vezes te pus para fora no grito? E ficava pelos cantos, uma figura geométrica cheia de quinas.
Um piscar e não restou mais nada.
O silêncio acontece quando faltam palavras - e reconstruções são sempre óbvias.
Silêncio ao primeiro olhar. Silêncio quando as primeiras palavras são lançadas. Silêncio após o beijo. O coito. O murro. Silêncio quando tudo acabou.
Silêncio aqui - pois eu e você sabemos, e ninguém mais precisaria saber, como acabou o fim se deu.
Eu tive uns sonhos, umas nuances - mas o tempo torna, sempre, tudo tão fácil. Imaginei, por muitos anos, se você imaginaria também e imaginando o seu imaginário, parei de me perguntar. Não existem outros caminhos quando um já foi tomado - existe somente a neurose.

Estive febril - desde que ouvi falar em seu nome. Fiquei repetindo incontáveis vezes - como se assim te trouxesse, de novo, à vida.
Prossegui, é claro, com minhas tarefas diárias: relatórios, análises, reuniões, engarrafamentos, idas ao supermercado. Mas o seu rosto não me fugia da mente. Eu sabia que estava mudada. Sabia que, com sorte, alguma coisa teria permanecido a mesma. Mas não me importave, até cego eu te reconheceria. Eu tocaria logo abaixo dos seus olhos e teria certeza do quanto estava dormindo.
Eu preciso, mais que tudo, te ver.
Só para te escutar dizer que irá chover - para me lembrar que não existem mãos, nem para segurarem umas as outras, nem para suportarem o céu.
Eu preciso voltar para a realidade - é segunda-feira e ainda não recebi meu salário.

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