Ela continua comendo uma maçã, todos os dias, às duas
horas da tarde. Sempre fuji. Sempre das mais vermelhas. Sempre enrolada num
pedaço de papel alumínio. Ela sempre se senta e abre o papel de forma a ter
controle do seu próprio barulho. Fica olhando genuinamente para a maçã, como
num pedido de desculpas: e depois crava nela os seus dentes.
Fica uma marca uniforme – graças aos anos em uso de aparelhos dentários. Um buraquinho miúdo. Que dá impressão de sua boa pequena ser menor ainda. Fica uma marca dela, um pedaço, mas ao avesso – a qual ela encara, e logo depois esquece, alcançando um livro na bolsa.
Ela prefere poesia. E não é muito chegada a contos. Já leu
toda a obra de Freud. Na verdade, não é uma pessoa de muitos preconceitos, e vez em nunca, até arrisca algum livro espírita. Ela gosta
dos clássicos, e sempre demora mais tempo neles – talvez para se assegurar de
ter entendido tudo. Devora biografias!Fica uma marca uniforme – graças aos anos em uso de aparelhos dentários. Um buraquinho miúdo. Que dá impressão de sua boa pequena ser menor ainda. Fica uma marca dela, um pedaço, mas ao avesso – a qual ela encara, e logo depois esquece, alcançando um livro na bolsa.
Ela cruza as pernas – agonia de ficar com ambos os pés no
chão. Numa mão, um livro, na outra uma caneta preta – que reveza com o restante da
maçã. Ela sublinha e recria. Reinventa. Vai, lentamente, tecendo
suas próprias impressões da vida – através de impressões dos outros.
Passa muito tempo sozinha, e nem liga para a
gravidade que os outros vêem nisso. Nenhuma coisa no mundo que aconteça lhe choca ou traz tristeza
– dos livros, ela aprendeu um pouquinho de cada dor.
Das dores, as que ela mais conhece vieram através da vida - ficam bem claras quando ela fita os olhos no céu. Não fala muito a respeito. Como se a vida não fosse nem passado, nem presente presente e nem futuro - mas uma série de episódios atemporais. Passagens e permanências, ela diz, sobre o que forma a vida.
Limpa os dentes, enrola os miúdos da maçã num guardanapo, quando já muito próximo do pôr do sol. E diz baixinho, que foi difícil estar serena assim, já havia tentado de quase tudo, e não muito atrás, conseguiu encontrar alguma calma. Uma qualquer-maneira de não-destruição.
Limpa os dentes, enrola os miúdos da maçã num guardanapo, quando já muito próximo do pôr do sol. E diz baixinho, que foi difícil estar serena assim, já havia tentado de quase tudo, e não muito atrás, conseguiu encontrar alguma calma. Uma qualquer-maneira de não-destruição.
Eu só afastei as minhas feridas das feridas dos outros...
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