sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mal Conto.

O primeiro.
Primeiro, como rebobino o tempo? Porque se a vida é filme, e viver é amar. E eu agora te amo - como já amava antes. Talvez não da mesma forma. Porque nosso amor se tornou distante. Mas falarei disso depois. Como rebobino o tempo? Querendo voltar atrás, e fazer tudo certo. Querendo o passado. De presente. Eu me pergunto: como rebobino o tempo? Falando em fazer certo, eu não sei o que realmente seria certo. Incerteza. Eu tenho alguns anos, e muita infantilidade – a qual uso como desculpa para todos os meus deslizes, que são incontáveis. Eu tenho um nome, que não vou revelar agora, porque ele cabe a somente uma parte da história. História que eu vou começar daqui a pouco – mesmo tendo começado há muito tempo atrás -, porque eu acho que relê-la e, principalmente, reescrevê-la, me transportará para a parte na qual o romance se tornou tragédia, e o mocinho virou vilão.
O que vem antes.
Nada veio antes para mim. Eu nasci em um determinado ano, com determinado peso e indeterminados pais. Começa nessa parte minha série de abandonos – que eu chamo de vida por não saber o coletivo de solidão. A história começa e tem continuação em Brasília, a cidade dos segredos. Pensei em mudar de cenário, para tornar a jornada – chamo de jornada, pois envolve estrelas e outros astros, e outras coisas bem maiores, tão maiores que talvez não caibam nestas páginas - mais familiar a você. Mas eu não posso me distanciar de mim.
Então estamos em Brasília, anos 80, movimentos punks, ditadura, e eu nasço. E acontece da felicidade ser tão grande que eu estou há todos esses anos tentando descobrí-la. Nasci sem pais. Apaziguado, se não fosse a etimologia e os conflitos. Sorte minha ter nascido de peles e olhos claros. Quase transparente, mas mais invisível.
Nasço e vivo alguns meses em um lar – que mais deveria ser um hospício -, e um anjo aparece e me leva consigo. Anjo ao qual eu chamaria de mãe, tempos depois, anos depois, muitos, muito mais anos do que deveriam ter sido, quando abri a boca pela primeira vez e disse alguma coisa que fizesse sentido aos outros. Essa parte eu conto sem ter absoluta certeza, mas confiando.
Vivo uma infância – relativamente – normal. Abstraindo o detalhe no qual eu não falava, não chorava, e só sentia. Nasci com uma sensibilidade de chocar até uma pedra. Confesso, eu falava, mas só às vezes, com economia de palavras. Pois sentia uma dor enorme ao me colocar para fora.
Cresço sabendo que pertencia a aquele anjo, pertencia de todas as formas, menos por sangue. Transfusão de amor. A adolescência segue como de costume, com revolta e pressa. Talvez eu tenha tido mais revolta do que muitos outros, porque no fundo eu não aceitava a forma como havia vindo ao mundo. Não aceitava ter vindo ao mundo pelo caminho de outras pernas, e não aquelas que apoiavam meu colo.
Embora tenha criado essa admiração, um amor infinito, e até, uma adoração, vivo muito mais ligado à figura paterna que me cerca e me ensina a ser um homem duro e determinado. Ainda que na verdade, as lições tenham escapado pelo ralo e eu tenha me tornado um homem sensível e perdido.
Entendo a injustiça do mundo assim que entro na Universidade. Festejo aquela felicidade que não era minha. Exibo com orgulho a conquista – que também não era minha. E ao mesmo tempo, perco meu anjo da guarda. E fico sem rumo. E fico sem chão. E não fico, e fujo para o exterior. Escolho o exílio da dor. Que só aumenta e me torna amargurado e inquieto.
Decido conhecer o mundo. E conheço de tudo. Menos de mim. Porque sinto uma dor enorme olhando para dentro. E vendo nada fazer sentido. E me vendo fazer nada para mudar isso. Conheço a Itália, a França, Portugal, as mulheres mais belas e imprevisíveis, as drogas – todas elas, sem exceção, inclusive a droga da vida, que é a mais difícil de largar. Conheço os primeiros amores da minha vida, e amo, e sofro, e choro, e tento voltar, e me reconstruo – nunca por inteiro. E então eu me canso e volto. Volto com poucas coisas na mala, com mais pêlos no rosto, mais raiva.
Retomo meu curso na Universidade – não contarei qual, por enquanto, ainda não confio em você – e, sem muito sucesso, termino e me formo. E procuro um emprego, e encontro. Ganho meu dinheiro e me sinto o dono do mundo. Cultivo amizades antigas, finjo gostar das mais novas. Conheço mais mulheres, durmo com todas que me deram a chance. Encho a cara, sobrevivo.
Vou vivendo, com muita dificuldade, com minhas tendências suicidas, com minha depressão crônica, e contida. Vivo com minhas mágoas. Não vou narrar todas, pois não temos muito tempo. O que veio antes do que realmente veio – e me levou embora -, é pequeno. São só detalhes, pequenos tijolos que me construíram para um exato momento.
O momento.
O momento é agora. Atravesso a rua, entro no bar, peço uma cerveja e acho tudo chato. Encontro meus amigos, encontro alguns passados, encontro um assunto, e encontro uma carteira. Jogada no chão. Viro para a mesa ao lado e pergunto se é de alguém. Não é. E o clichê continua. Ela aparece. E o verdadeiro encontro acontece. Começa com um vulto andando em minha direção, depois um par de pernas fartas e uma cintura convidativa. Logo então, um sorriso nervoso. Ela sorri. E é para mim, para a carteira em minhas mãos. De repente o mundo gira, como se nunca tivesse girado antes. E eu, então, saí de órbita.
Não acontece como deveria acontecer e eu não pergunto seu nome. Não olho em seus olhos e nem ao menos disfarço meu encanto. Não me faço de bobo, nem peço seu telefone. Não confio em meu taco e abro mão do jogo. E eu entrego – primeiro a carteira, mais à frente, a mim. E ela se vai. Ela quase se vai. Mas a vida é feita de coincidências, e dizem por aí que existe o destino. E naquela mesa, naquela exata mesa que eu queria quebrar todas as garrafas e andar até o meu apartamento, e dormir, apenas dormir, estava meu melhor amigo – dele eu falo depois -, e naquele meu melhor amigo, estava o sangue. O sangue que nos conecta – conecta a eles e a você, não a mim – aos outros, era por acaso um sangue que o conectava a ela.
Ela, que era prima distante. Que era estrela, astro, distante. Ele a puxa pelo braço. E toda cordialidade do mundo invade aquele quintal coberto de mesas, e cadeiras, e garrafas, e gente. E o encontro se solidifica. E eu sinto a existência de uma possibilidade surtir. E ela se senta. E sorri. Como sorri! E eu sorrio, sem nem saber do que falam. Sem nem me importar se falam. Há, nesse momento, o primeiro – e eterno – encontro.
O segundo.
Houve um segundo naquele momento do encontro, em que os olhos dela encontraram com os meus. Estou sentado, bebendo goles apressados, observando e rindo – como é saboroso o gosto do riso espontâneo. Estão todos sentados, bebendo calmamente, conversando e gargalhando. Ela está rindo, se divertindo, escutando. E ela se movimenta com muita calma, mas com muita freqüência. Finalmente, vira o rosto em minha direção, e desvia. Mas antes de desviar, encontra com meus olhos e se diminui.
Ela se diminuiu. Lançou um olhar sem alvo. E me acertou.
Falam das flechas e dos cupidos, mas se esquecem da dor e da ferida. Das fibras da pele que se rompem, do desmaio. Porque parece mesmo um desmaio quando, em um segundo você é um, e em outro, você é de outro.
Ela se diminuiu e eu me sinto constrangido. A cadeira de plástico amarela parece grande demais para ela, que, então, para de sorrir. E imerge em si mesma. Eu continuo a encarar, com meus olhos curiosos, dos quais ela ainda foge. E eu procuro motivos se, naquele segundo, eles pareceram tão encontrados, o que haveria de tão perigoso para que, tão rápido, se perdessem?
Acendo um cigarro, e ainda não sei qual é seu nome. Não me foi apresentada.

7 comentários:

Anônimo disse...

http://luaninhha.blogspot.com/2011/06/baby-baby-baby-im-missing-you.html

http://gotasdecodeina.blogspot.com/2010/12/olive.html

ou as duas são a mesma pessoa ou alguem ta plagiando

Julianna Motter disse...

Como assim?

Anônimo disse...

compare os dois blogs, alguém ta plagiando

Julianna Motter disse...

Uma plagiando a outra?
Bem, eu sei quem é a escritora de um dos blogs. Só isso.

Anônimo disse...

o blog de luaninha ta cheio de textos da bianca, qual das duas eh o verdadeiro?

Anônimo disse...

Pois bem, pra que falar de plagio, logo aqui...Então você pode estar até certa de que o formspring é mais uma rede social, mais comecei a te admirar em muitos momentos por ele, graças a ele...Pode ser que seja outra pessoal pessoalmente. Não sei porque mais ao meu ver, a escrita define exatamente o jeito que vc é...Posso esta errada, mas....

Um beijo e continue a escrever, gosto de apreciar uma boa escrita e escrever logo em seguida

Julianna Motter disse...

O problema é que no Formspring, por exemplo, eu encaro as coisas com muito menos seriedade do que eu encararia na vida real. Mas enfim, muito obrigada, e espero que continue lendo.