segunda-feira, 20 de junho de 2011

Só Despedida.

Semana passada eu saí correndo da sala de medicação por não aguentar mais ver agulhas, nem encarar todo aquele branco imparável. O que aconteceu foi que, na noite anterior, bebi tanto, mas tanto, que pouco depois de me dar por satisfeito, passei cinco horas vomitando, depois dei um intervalo de duas horas para me deitar no chão do banheiro e encarar o teto. Nunca tinha percebido o quão feio e embolorado ele está. Dá uma sensação de sujeira, uma coisa que me remete a abandono. Minha mãe lavava todas as latinhas que comprávamos, eu me prometi que não faria isto quando "crescesse". Era uma coisa meio psicótica, sei lá. Enfim, durante o meu intervalo lembrei de uma mulher que me ama lá de longe. Não sei porquê, mas ela simplesmente me ama, teve uma vez, que em um surto de carência, despencou de lá só para me dar uns beijos. Foi legal, mas ela andava na ponta do pé, e eu não consegui parar de odiar isso. Às vezes eu achava até bonitinho, parecia que ela estava escalando as nuvens, mas aí eu me lembrava que ninguém nunca foi capaz de fazer isso, e aí eu tinha vontade de arrancar fora os pés dela. Ainda que, mesmo sem eles, não era, nem nunca seria ela. Quando o coração não bate mais forte, nem enfraquece, não adianta insistir. E enquanto eu estava naquilo de encarar o teto, tinha uma outra mulher dormindo parecendo morta na minha cama. Ela vive aparecendo por lá, isso já faz uns oito anos, quase nove. Já mudei a cama de posição, já mudei de cama, mas ela continua indo parar lá. Os dias, geralmente, têm o céu mais aberto quando acordo com ela ali. Não sei em que ponto quero chegar. Antes de entrar na sala de medicação, fiquei umas boas horas oscilando entre a privada do banheiro de deficientes e as cadeiras de plástico da recepção. Tudo que eu mais queria era que arrancassem fora o meu estômago. Desejar isso me levou à nostalgia dos tempos em que eu me jurava tão sofrido que dizia dispensar a maior parte das várias utilidades de um coração. Quando a gente é mais novo tudo é tão maior. Hoje fomos tomar uma cerveja, eu e ela - a mulher da cama -, como fazemos todo dia 17 de cada mês - é quando a gente se encontra, se beija, se despede e diz sem dizer que se vê quando der. Ela me contou que na semana anterior tinha ido para cama com um cara que ela conheceu na adolescência e cultivou um amor-paixão platônico por cinco anos até ele dizer que ela era gordinha demais para ele. Reclamou durante horas dos dias que passou tentando descobrir cada coisa que ele mais gostava, e cada lugar que ele frequentava, e todos as meninas com as quais ele já tinha se envolvido, e eu deixei soltar que acho esse troço de amar meio psicótico - pior, ainda, que lavar todas as latinhas. Ela só não me deu um tapa na cara porque da última vez que havia tentado uma coisa dessas, eu acabei por faltar no dia 17 do mês seguinte. É claro que discutimos, a gente sempre discute. Porque ela sonha em constituir família, e eu só espero ter dinheiro para nunca faltar bebida. Porque ela, quando bêbada, admite que devíamos nos estabelecer juntos, e eu tenho medo de perder a hora do jogo. Ela é meu amor café com leite. Quando a gente quer, a gente faz, você nunca escutou isso? Ela diz e os dizeres dela saem todos com cheiro demais de cachaça. É isso que ela me diz quando eu tento dizer que é ridículo falar que vai querer alguém para sempre. No começo, escutar isso, me dava vontade de vomitar - mas só uma vezinha só -, mas eu já me acostumei em aceitar idéias diferentes das minhas. A verdade é que eu odeio a hora que ela vai embora, porque só ela sabe me deixar seguro. Como se só ela pudesse me levar até o ponto mais alto, sem me deixar cair do balanço. Eu tenho muito medo de que, um dia, ela vá embora, e não volte no mês seguinte. É triste demais sentar para beber uma cerveja sozinho. Pode não ter sido à primeira vista, mas foi, é, será, amor. Nem teve gosto de cereja, nem tocaram os sinos. Alguma coisa voou, mas não posso garantir que foram as borboletas. Às vezes você não fica assustado pensando na possibilidade de nunca mais ser amado?

2 comentários:

Anônimo disse...

Se soubesses como ainda pulsa...

Marcelo disse...

Fico assustado todo dia na verdade.