quinta-feira, 16 de junho de 2011

Deitados na Banheira.

Você me dá vontade de escrever, de colocar para fora. Se eu imaginasse que você seria o único leitor, eu seria capaz de escrever um livro agora. Do tamanho de uma Íliada, ou Odisséia. Eu quero te explicar porquê, depois de tanto tempo, eu resolvi te escrever hoje. Por quê logo hoje? Se não é nem Sexta, nem Domingo, nem Segunda. Se é só Quarta-Feira e se nas Quartas-Feiras não parecem haver muitas emoções. Não é dia de estar ansioso para o fim de semana e para um porre bem dado. Nem dia de querer arrancar a cabeça por tanta ressaca. Nem de dizer: porra, de novo não. Porra, de novo não. Eu quero dizer isso hoje. E tomar um porre daqueles, depois sair cambaleando e tentar enfiar minha chave na porta do vizinho, e reclamar por não ter conseguido girar a maçaneta. E daí amanhã, quando parecer um sonho distante poder abrir os olhos, acordar de ressaca, e pensar consecutivas vezes em como seria bom arrancar minha cabeça. Só por uns dois minutinhos, talvez cinco. Só para respirar melhor. Para tudo parecer mais leve. Quantas vidas custa um coração? Com quantas vidas se paga por um coração? Digo, depois que ele parou de bater. Sabe, quando a pele já está tão branca, tão branca, que ali parece que realmente há uma "cor" mais pura. Melhor, uma paz na pigmentação. Parece que existe uma ordem natural das coisas, sobre a qual eu não paro de ouvir falar. Tipo, nascer, crescer e morrer. Uma ordem que não deveria ser revertida. Como o Pai, o Filho e o Santo. Quando o Filho vai primeiro que o Pai, parece que não há Santo que baste para apaziguar, nem acalmar. Você não acha desnecessária a forma como as pessoas se dizem familiarizadas com as dores dos outros? Como se isso fosse aliviar as coisas, esse "não se sinta só" quando, na verdade, todo mundo veio ao mundo com o intuito de respirar sozinho. Se, um dia, me for necessário, eu peço que dispensem todos os aparelhos. Eu quero ter a consciência e o direito sobre a minha respiração. Não quero viver às custas de ninguém, nem quero que prolonguem algo que já tenha fugido do meu controle. Às vezes eu queria que o Universo fosse uma barraca e o mundo fosse um balde só para eu poder ter a opção de chutá-lo para fora. Meu Deus, estamos beirando o meio de 2011 e por quê ninguém acorda? Estão todos extasiados com a emoção de, muito provavelmente, sobreviverem a mais um "fim do mundo". Estão todos anestesiados com a emoção de puta que pariu essa é a vida. Sim, essa é a vida. A sua vida. E de quantas mais você vai precisar para entender isso? Estão todos preocupados com a salvação das galinhas, uma possível ressurreição do Bin Laden, a redenção ou não da humanidade caso, em 2012, o planeta seja invadidos por alienígenas? Quando os batimentos cardíacos foram substituídos pelos alertas de novas mensagens na caixa de entrada? A gente passa tempo demais calculando quantas horas no fim de semana vamos poder dormir e não ter que escutar uma velha gorda nos dizendo como éramos rechonchudinhos e rosados parecendo porcos na infância. A gente passa muito tempo achando que cada amor vai ser o último. E mais tempo ainda se corroendo por pensar que irá morrer no segundo que aquela pessoa "x" abrir a porta e ir embora para sempre. Se brincarmos, talvez morem mais pessoas na nossa cidade hoje, do que em nosso país na época em que nossos tataravós nasceram. E a vida segue mais rápido para o esgoto do que nossas próprias fezes. Eu juro que hoje eu não aceito se me dizem que o mundo é redondo. O mundo é a porra de uma pirâmide e só quem pode está no topo. E ninguém quer saber dos problemas de ninguém. Porque a bateria do telefone vai acabar ou tem hora para voltar pra casa. Por quê apanhar por um outro se você não apanha nem por méritos próprios? Pra quê desobedecer as ordens? E perder o fim de semana? Eu acho que as coisas talvez pudessem estar mais amenas se a cerveja estivesse gelada. Se eu não tivesse chegado e encontrado apenas três latinhas na geladeira. Se eu já não estivesse na metade da segunda. Se não fizesse um frio da porra e eu conseguisse sair de casa para comprar mais um engradado. Se a gente está mesmo na merda, por quê não aprendemos logo a nadar? Eu fui sincera quando disse que sinto falta de ler toda a sua confusão. Confesso que senti saudade dos seus amores mais do que dos meus. Que nas minhas folhas enganam na beleza, mas que perto dos seus são só atos errôneos. Se até seus amores foram mal-amados, quem dirá os meus? Tenho dado tempo ao tempo, mas ele não tem dado atenção para mim. Um dia desses, dirigindo, perto das quatro da tarde, quando o sol, aqui, não faz nada além de atrapalhar a visão, eu fui capaz de cometer a estupidez de pensar em suicídio. Não que o ato seja estúpido, por muitas vezes não é. Mas quando não se tem problemas reais, não é, nem de longe, solução. Sabe, tem gente que vira e diz: 'aconteceu por um momento de loucura'. Sendo que, às vezes, foi um momento de lucidez. Não sei se o único, mas o último. E, provavelmente, o mais importante. Eu te perguntei se você não achava desnecessária a forma como as pessoas se dizem tão familiarizadas com as dores dos outros. Com aquela intenção ingênua mais ignorante de dizer "não se sinta só". Como alguém ousa pedir para que alguém não se sinta só? Quando se sentir acompanhado, na verdade, pode ser um dos piores sofrimentos? Não que a solidão seja remédio. Ao mesmo tempo que companhia nunca será cura. Solidão é como uma contenção de danos, um esconderijo, um porto-seguro. Companhia pode ser um alívio ou um estrago. Quando a gente vai aprender a respeitar? A não sufocar? E parar de dizer que a fraqueza era dos outros quando podemos ter sido os que afastaram o banco? Dor é, por si só, algo solitário. A comoção é a ação do coletivo frente a isso. Dó dos que se dizem equilibrados, e vivem por aí pedindo por juízo. Dó dos que vivem sentados na mesma cadeira acolchoada e nunca se inclinaram sobre um parapeito. A loucura é um dom que nasce com poucos. Saber amar, e ser amado, também. Eu queria não ter apagado seu número. Ontem eu teria te ligado de madrugada. Tem uma menina aqui que me lembra você. Ela tem tudo o que é preciso para ser um dos seus amores a serem escritos. Ao mesmo tempo, ela desperta em mim a mesma vontade que você sempre me deu de escrever e escrever e escrever até esgotar todas as discussões e assuntos. Sinto saudades do tempo em que você me chamava de amor, e sem saber, eu te chamava de amigo.

13 comentários:

Anônimo disse...

Toda vez que vou falar contigo ou só penso nisso me da um frio na barriga, desde a 8 serie que acontece isso, talvez seja por isso que a gente "conversava" tanto antes da aula começar... Até hoje me arrependo um pouco disso.

Julianna Motter disse...

Se arrepende disso o quê?

Nayla disse...

"Como alguém ousa pedir para que alguém não se sinta só? Quando se sentir acompanhado, na verdade, pode ser um dos piores sofrimentos? Não que a solidão seja remédio. Ao mesmo tempo que companhia nunca será cura."

Eu tinha parado de ler os seus textos há um tempo, não por preguiça ou descaso, mas sim porque você sempre acerta no que mais dói, haha. Muito bom!

Julianna Motter disse...

Nayla, agora eu te obrigarei a sentar sempre que nos encontrarmos, para ler os últimos textos. Que feio! Ahahaha, muito obrigada, de verdade! E desculpa se doeu...

Anônimo disse...

Sei la, de não ter realmente conversado contigo.

Ah, gostei do texto (:

Julianna Motter disse...

Ah, que gracinha! E muito obrigada! Mas hein, fiquei curiosa...desde a 8ª série...quem é?

Marcelo disse...

Do jeito que eu falava não me impressiona você não se lembrar haha

Julianna Motter disse...

Awn! Eu SABIA que era você. Acho que vou investir na carreira de vidente! Que fofo! Como você tá?

Marcelo disse...

Com vergonha... E você?

Pamella disse...

Você é realmente incrível, cada texto é maravilhoso. Obrigada!

Giselle Alencar disse...

Eu tava pensando em comentar. Mas...acho que se eu disser que fiquei sem saber o que falar consigo transmitir melhor o que achei deste post.Fooda!!!

Drummond disse...

"Há vários motivos para não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece"

Diego Nathan disse...

Algumas pessoas entram em ônibus e começam a tecer histórias, começam a viver a vida dos outros. Outras fazem isso em bares, em casa, no trabalho. Algumas viciadas fazem isso o tempo todo, travestis, escritoras, donas de casa. A arte é desnecessária e viajar é preciso.