sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Passé.

Ainda hoje, foge do meu entendimento o que haveria acontecido naquelo ano para que tivesse sido tão frio e seco. Nunca esquecerei-me da melancolia dos gramados, tomados pelo vermelho-meio-marrom-de-terra, pela inexistência de cores vivas, ou de alguma vida qualquer. Também não esquecerei dos dias em que vi o sol se pôr solitariamente por detrás dos ipês. Quandos as noites chegavam - outra forte lembrança -, todos os pêlos de meu corpo - branco feito leite -, arrepiavam-se, parecendo terem visto um ser de outro mundo. Mas algo em mim era feliz, de uma felicidade extrema e sossegada. Saía para caminhar e assobiar, coberto por um casaco de lã que guardo até hoje. Ainda tem seu cheiro, e olhando meticulosamente, alguns fios de seu cabelo castanho. Não esquecerei das noites que saímos para jantar, beber algumas taças de vinho, reclamar do doce do café, do amargo das palavras que trocávamos - ou que deixávamos soltar pela íris de nossos olhos. Ainda tenho seus abraços guardados na caixola, em um aperto no peito. Tenho seus sorrisos emoldurados, cada um deles pendurado pelas paredes. Saudade, da mais pura e frágil. Capaz de fazer-me chorar feito um bebê desmamado. Não sei o que houve naquele ano, para que pudéssemos ser felizes da forma tão simplória em que fomos. Mas sei que, hoje, olho-te cobrir meus pés à noite, enquanto finjo estar tendo um pesadelo, e penso: estaríamos bem mesmo sem as lembranças.

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