terça-feira, 3 de agosto de 2010

Encaracolado.

Estávamos à beira dum precipício: ou voávamos ou caíamos. Você tinha asas, disso eu sempre soube. Você sequer precisou me contar. Estávamos naquela fase de jogos psicológicos: se você pular, pulo junto. Mas se você voasse, tinha a certeza de que ficaria para trás. Engano meu. Estávamos com aquela fobia do futuro, aquela nostalgia do que ficou para trás. Temíamos o dia seguinte, com a sutil sensação de que não mais acordaríamos abraçados. Pois, sabíamos, no fundo sabíamos sim, que o encaixe estava remendado, suturado, junto as nossas feridas. Com as solas de nossos sapatos escorregando, olhei bem em seus olhos, como se dizendo, com eles, que você poderia voar e eu ficaria ali, você fosse entender. Tudo bem, talvez tenha entendido - e aliás, prefiro acreditar que sim -, pois você saltou. Bravamente, como se não fosse a primeira vez. Outro engano meu, porque realmente não era. E eu ali, tão firme, levei um susto ao te ver alçar vôo, quando, na verdade, parecia que não iria conseguir - pois chegou a quase atingir o fundo, fundo este que eu não via. E foi quando então escorreguei. E quando você olhou para trás - suponho sim que tenha olhado - eu já não estava mais lá. Deve ter se questionado quanto a veracidade de minhas palavras, pois eu sei que disse que ficaria ali. Tentei, juro. Mas sem você, já havia te dito: a vida era osso. E era bem aqui, no final da queda, que eu pude redescobrir: sem você a vida era, na verdade, poço, e fundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

putz..