terça-feira, 10 de agosto de 2010

Agosto.

Sempre tive a certeza de que depois da calma, vem a tempestade, e então o abandono. Soube ser bem discreta, isso eu admito. Sempre soube que depois da calma, vem o abandono. Vestidos floridos, pés descalços, e todo aquele gramado verde. Sentia o vento dos seus cabelos nos meus: isso seria o amor verdadeiro. Seus olhos, feito os de Capitu, eram de uma dissimulação clara, porém branda. Mas prefiro compará-los aos buracos negros, ainda mais somados a seus lábios, e presos a seu corpo inteiro. Vestidos ressecados, pés ainda descalços, e todo aquele asfalto esburacado. Sentia o calafrio de sua pele na minha: isso seria o desespero. Tenho, ainda, o direito de não entender seu desentendimento com louça chinesa, pois as peças estavam sempre em cacos, espalhadas pelo chão, logo depois de quase alcançarem minha cabeça. Primeiro encarei isso tudo como fraqueza: sua ossada era extremamente fina e seu sorriso oscilante. Vestidos transparentes, pés flutuando no espaço, e todo aquele céu de Agosto. Sentia sua falta na falta de mim: isso seria a saudade. Ou dependência. Ou abandono. Ou amor verdadeiro também.

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