segunda-feira, 12 de julho de 2010

Limpeza.

Acendo um cigarro, peço um café - talvez assim ganhe alguma seriedade. Abro um livro, talvez dois, cruzo as pernas, puxo as mangas da camisa - algodão egípcio, é claro. Encaro-a, insistentemente. E paradoxalmente, cumprimento-a com descaso. Sente-se aqui, às vezes digo, e puxo uma cadeira. Todas as folhas rabiscadas - quero que ela perceba minha intelectualidade. Empurro a fumaça - fracasso, é claro. Mas ela não se importa. Acompanha-me, mas pede um capuccino. Deixa que sua boca se envolva num bigode de espuma - provocação, é claro. Alcanço um guardanapo, antes que, por impulso, a ponta de meu indicador alcance seu rosto. Partilhamos de um silêncio constrangedor, e então ela decifra: queria que ela limpasse a boca na minha.

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