sábado, 11 de julho de 2009

Sonho.

Compadecia de todas as amarguras cotidianas. Acreditava na pureza do sorriso dos velhinhos, e na sabedoria dos olhos das crianças. Assistia seu reflexo nas poças d'água imaginando estar assistindo seu afogamento. Fantasiava com sua morte enquanto seu corpo ardia de febre. Ora imaginava-se correndo em um campo de vegetação rasteira, banhado por um sol que ardia tanto quanto seu corpo. Ora imaginava-se preso sozinho no céu de uma noite fria. Não possuia uma preferência entre a solidão e o calor, ou a solidão e o escuro. Sentia-se desfalecer a cada trago de ar dado. Mas sabia que não tratava-se de nada além de uma idealização de um final feliz. Partilhava de gostos excêntricos com seu interior, entre um café ou um chá, preferia a mistura dos dois, um cigarro de palha ou um cigarro convencional, fumar, ainda que só na imaginação, a caneta que carregava no bolso. Carregava pela morte o afeto que faltava-lhe pela vida. E buscava nela a tão prometida salvação. À noite suava ao ter pesadelos com a vida, e sentia-se boiar em um lago morno ao sonhar com a morte. A febre partiu sem muita cerimônia, fazendo apenas com que o final feliz fosse adiado e a transpiração de seu corpo aumentasse. Nunca sentiu seu corpo tão frio, nunca sentiu-se tão desiludido. Havia chegado tão perto de realizar o único sonho de sua vida, que chegou à conclusão de que teria sido melhor não ter tido vida para não ter tido um sonho.

2 comentários:

Raquel disse...

Que isso, Joliana.

Anônimo disse...

Por que tudo isso, menha felha?