segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Mais um de amor/ mais de um amor

Era só um instante. Um instante que nos separava daquilo que éramos para algo muito maior. Eram alguns centímetros, entre meus lábios e os seus. Entre seu pescoço e a minha nuca, alguns a mais. E toda essa distância podia ser, era, muito maior. Questão de milímetros e quase, mas quase mesmo, poderíamos desafiar todas as leis da física da química da matemática as leis de todo o mundo e ocupar o mesmo espaço – mas ele não existia. Isso era quase. E eu tenho certeza. Entre nós, quando não nos encostávamos, quando ficávamos só a nos olhar com estranheza – afinal, éramos um estranho ao outro, por mais que uma luz se acendesse no fundo dos olhos nos dizendo que não -, quando ficávamos assim, nesse bem querer distante que se queria desde o cálcio nos ossos, parecíamos dois seres vivos em morte – de tanta vida que nos petrificava. E ficávamos, na distância entre nossos corpos, a nos olhar com estranheza naquela intimidade distante que, tão logo, se revelaria ainda maior. Porque éramos, afinal, um talhado de maneira a caber encaixar em cada ausência rigidez orifício do outro. E por sermos assim, já tanto e já tão depressa, as coisas desandariam um pouco – caminhariam no tempo próprio, onde não caberiam as palavras e só os olhares estranhos que ficariam a se estranhar e se querer nesse bem querer tão grande que se confundia. Ficávamos a nos olhar, os lábios se tocando mesmo distantes, e havia um espaço ali. Naquele espaço entre o meu corpo e o seu: o infinito. Era ali onde se encontrava. E quando nos encostávamos: o infinito escorria pelas nossas pernas, escapava pelos lados e subia, arrepiando os cabelos. Também subia. O infinito era em horizontal vertical e em diagonal. Transcendia, num sambinha meio mole, meio caído para o lado esquerdo, com os ombros encostados na poltrona, sonolentos, esperando só a hora, os pés querendo ir, querendo ser levados, sem nem se importar para onde.

Isso tudo. Isso tudo é besteira. Isso infinito. Que nos possui de uma forma estranha. Onde, mesmo estranhos, nos beijamos a boca e lambemos as feridas. E por um segundo que seja, de uma noite fria de maio, parecemos feitos um para o outro, e nos desfazemos, por meia-hora que seja, um no outro. Isso infinito que se soma as miudezas dos dias e nos arrastam pelas ruas, a atravessar rapidamente enquanto os carros se embaralham, a segurar as mãos. Esse espaço infinito em que nos molham os lábios e eu só penso em algumas palavras para te dizer e espero que sejam ditas sem que eu precise abrir a boca. Essas palavras que nos saem pelos poros e eu te olho e você me entreolha – e na estranheza não lhe deixo mistérios, você me entra e nenhuma porta trancada, nem semi-aberta, nem nada. Eu deixo que entre e espero mesmo que nunca saia, por isso, essas palavras nunca ditas já dizem, imediatamente, que eu espero por algo infinito em tempo, mesmo sabendo que não existe. Ou querendo acreditar que sim, mas homem o suficiente para dizer que não. Não vamos nos assustar. Não vamos nos assustar. E eu te beijo os lábios e você me morde a língua. E nada nunca é tudo e tudo sempre é nada. Eu te beijo com essas palavras engasgadas. E nosso beijo tem gosto de verbo. Que saiba, eu conjugo, com a precisão de quem costura um peito aberto, num volume baixo quase afundado na terra, antes de dormir, e a cada vez que acordo, ao longo da noite, e te olho acordada em sonhos...

Um comentário:

Anônimo disse...

Te conheço atravez de seus textos. Infelizmente ou felizmente?! Kkk
Adoro pessoas que não se cansam de florir, e voce me parece assim.