segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Amor é Ligeiro.

Uma travessia rápida por um corredor pouco iluminado. As imagens trêmulas, causadas pela câmera instável, nas mãos de um indivíduo que corre. Os sons saídos de um piano. Das mãos de alguém que mais acaricia do que aperta as teclas. Alguém que parece ter medo de ferí-las. Para a cena seguinte, imagino nós dois, cabelos molhados em decorrer da chuva. Que logo passará - saber disto é o que, afinal, nos faz permanecer estáticos, apenas olhando um para o outro. Não era imprescindível que usássemos das palavras, mas era preciso que algo ali, pelo menos alguma coisinha que fosse, nos desse algum tipo de suporte. Já que não seríamos capazes de nos abraçar. Nem mesmo para tentar assegurar de que tudo ficaria bem. Você permanecerá firme, para que eu não estremeça. Estremecerei. Precisarei de um cigarro, talvez o maço inteiro, enquanto você não decide se aperta meu ombro ou se entra de uma vez no carro. Não demorará muito, aparecerão uns feixes de luz. Você nunca me deixaria sozinho ali. Mas se questionará se fez o certo quando eu começar a resmungar. Dizendo que é um desperdício, já é quase noite, mas ainda assim, o sol se abre. Como se não tivesse culpa de nada, como se já não fosse tarde. Se ele tivesse aparecido mais cedo...e você me calará, dizendo que já não aguenta mais minha voz. Dirá que, antes, ela era macia, fazia cócegas ao pé da orelha, e que, agora, só serve para noticiar o podre, o absurdo. Você alegará não saber quando foi que me tornei tão triste. Não jogarei minha culpa em você. Haverá um único estabelecimento com varanda aberto. Por sorte, seremos apenas nós dois. O resto das pessoas não suportou o vento frio. Tudo bem, faríamos bom uso de um pouco de privacidade - apesar dos olhares vindos do outro lado do vidro. Ainda assim, não poderíamos levantar o tom da voz. Ia contra as leis de paz que estabelecemos. Somos muito geniosos, temperamentais, donos da verdade, e nunca esqueceremos o episódio em que três dos seus dedos da mão saíram deslocados. Sua mãe quis me processar, junto a sua iniciativa de pedir o divórcio. Ficou tudo só no início da língua mesmo. Você resolverá fumar também, porque, apesar de tudo, meu nervosismo ainda te deixará inquieta. Nenhum de nós se sentirá culpado. É um acordo, silencioso, mas nem por isso deverá ser quebrado. Não sentimos mais nada. É isso. Nem quando nossos corpos se desnudem. Nada além de uns orifícios e umas extremidades. Ficará tudo mais manso quando você melar a boca e, ao limpar, perceber que nós dois ainda temos sim a vontade de rir juntos. De sermos cúmplices de algum crime que existirá, pelo menos, na imaginação. Como atirar o vizinho do 503 pela escada, ou roubar o jornal ao passar pela porta do 301. Vou te amar mesmo se o amor tiver acabado. No fim, certos de que chuva passa e que a gente, há muito tempo, já parou de cair, iremos juntos para casa. Colocaremos um filme para assistir, e dormiremos abraçados. Porque mesmo não sentido mais nada, ainda teremos o sentimento de culpa. Aquela ligeira impressão de pertencermos um ao outro para sempre.

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