quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Romance do Século.

Eu começaria falando dos seus olhos, ou da cor dos seus lábios, ou dos seus fios grossos de cabelo. Poderia começar, também, pela ponta do seu pé esquerdo, e subir por sua canela, atravessar a ponte até as coxas, descrever cuidadosamente qualquer rigidez ou umidade. Eu também poderia não falar, e apenas observar. Mantendo em segredo sua beleza oculta. Eu queria te beijar até que não faltasse nem um pedaço. Nem um mínimo pedaço. Assim eu saberia que, pelo menos neste momento, você foi completamente minha. E completamente conhecida e adorada por mim. Adoração é uma coisa que poucos conhecem. Limitam aos deuses e santos. Eu posso dizer que pude adorar algo mais concreto, palpável. Eu pude adorar seu corpo, e também suas diversas formas de dizer a mesma coisa, e suas mãos coçando os olhos toda vez que o sol entrava e eu não podia te proteger. Queria eu ter sido capaz de te proteger de tudo, sempre. Mas você tem suas pequenas cicatrizes. Cada uma com uma história, uma tragédia, uma redenção. Você sempre me diz que não se arrepende nunca de nada, e depois me pergunta se me sinto do mesmo jeito quando as coisas acontecem. Eu nunca sei o que te falar. São sempre tão ineficientes minhas palavras comparadas as suas. Talvez por você falar com tamanha consciência da vida. Como se sabendo do peso e da podridão de cada coisa. Você parece ter nascido anos-luz antes de mim. Toda sábia com sua saia-rodada fazendo cócegas em mim. Sob a sombra de uma árvore, puxando os pêlos da minha barba, e discursando sobre o imenso azul do céu. A imensidão que eu conheço vem dos seus olhos. E voa dentro de mim. Sem pressa, sem se preocupar. Desbravadora e destemida. Um desejo de viver e ser feliz. E ainda que todos falem que é errado, errado mesmo é não saber amar assim. Porque nós temos tudo. Desde que baste termos a nós mesmos. E espero que seja assim para sempre. Seus olhares mútuos de si. Foi assim que um dia nos descrevi. Quando tentei colocar em palavras todos os efeitos causas e colisões que aconteciam entre nós. Até entre os seus defeitos eu poderia morar. E dizem que se passou o tempo, e que ele ainda passará. Eu digo dane-se. Eu não tenho pressa, só desejo. Desde a primeira vez em que coloquei os olhos em você. Eu ainda me lembro. Sem nenhuma dificuldade. Meu estômago começou a bater e meu coração se ocupou da digestão. Acreditando que, na vida - assim como nos romances -, existe apenas um ponto de clímax, eu me sinto sincero o sufiente ao dizer que foi ali. Eu poderia ter culpado o álcool, ou o neon, ou as batidas altas o suficiente para me deixarem tonto, mas foi você que me sufocou. E me tirou do chão. E me tirou da terra. E me tirou de tudo. Entrei em você como se já houvesse passado pelo purgatório e, ali, em suas curvas, eu estivesse tateando o paraíso. Que bela vista de lagos e mares e prazeres. Eu te desejei como nunca, e vem sido assim desde então. Um incessante e incansável desejo que só se satisfaz quando...um desejo que nunca se satisfaz. E que, agressivo, não te permite escapar de mim, nem mesmo nos sonhos. Eu sinto você me sentindo. Um amor menor do que o meu. Eu não me desespero, nem desisto, ou tento remendar comigo. Eu vou levando, e esperando que um dia aumente. Ou que fique assim, contanto que não diminua, ou não acabe refratando para outros lados. Seu amor reflete uma miniatura do meu. Eu não quero te acordar. Você parece em paz. Não sei de onde ela vem. Mas eu gosto de te ver assim. Mesmo com a possibilidade que não seja por mim. E são o suficiente para saber que eu não sou tudo na sua vida. Vou continuar calado, como estava, antes de te perturbar - sem que você saiba - com meu amor inquieto. Continuarei lendo os maiores romances do século. São todos tão desprezíveis, insossos. Mas, apesar de tudo, são bons os autores. Só há um problema. Eles não puderam escrever o maior amor do mundo. Mas nós podemos vivê-lo.

2 comentários:

Anah Luizahh' disse...

Uma história feliz? Ou quase feliz?
P.s.: Amo seus textos. Sou leitora assídua do seu blog! Parabéns!

Kerés disse...

Eu me escondo nas mesas e na fumaça por que a minha cabeça só sabe repetir o seu nome. E os meus pensamentos mais íntimos e as minhas fantasias mais loucas, e as minhas vontades de lambidas, chupadas, beijos, abraços, são todas com o seu corpo, no seu corpo, pelo seu corpo: moléculas ordenadas temporalmente, estrutura óssea que sustenta carne, invólucro divino, máquina desejante, poesia - chame do que quiser, mas é de você que preciso, é com você que sonhei.