quinta-feira, 31 de março de 2011

Destruição em Massa.



É difícil estar bem quando quem a gente quer bem não está também.



Díficil tentar entender o que os grandes poetas quiseram dizer. Se natureza ou libertação. Se a natureza deveria ser liberta, ou eles de si mesmos. Se cada verso foi pensado, premetidado, ou se cada dor neles saiu em um espasmo. Eu não sou bom com versos, nem com rimas - mesmo as mais pobres. Mas tudo que escrevo sai sem estar ao alcance de minhas mãos. Talvez meus braços sejam por demais curtos. Talvez eu não tenha tentado tanto quanto eu deveria. Talvez...ah! se talvez bastasse. Estaríamos nós dois deitados sobre a grama recém cortada, ainda molhada de chuva, sentindo nossas bochechas corarem ao sol, e nossos pés se aproximarem uns dos outros - mais, cada vez mais. Eu não estaria sentado ao lado de vinte corpos estranhos, sem visita alguma de vento, com cede e carência de cafeína, escutando que poetas calculam muito mais do que, um dia, calculariam os alquimistas. A adoração responde negativamente aos mais térreos estímulos. Não acredito em Deus. Nem em um, nem em vários. Não sobrou tempo em minha vida para adorá-lo, e ancorá-lo ao peito. Não me abri para nenhuma religiosidade e, quando é preciso, encontro a calma em meu próprio ceticismo. Mas ainda insistem nisso de espírito. Eu acreditaria se pudesse tocá-lo. Ou se eu pudesse ter calculado quantos centímetros ele ocupa no meu corpo. Ou quanto ele pesa a mais toda vez que subo em uma balança. Com minha estatura e a pele mal encobrindo as formas das costelas, eu provavelmente não teria acreditado no papo de sobrepeso dos ossos. O que pesa aqui é meu espírito, é minha alma, eu diria. Empolgado por imaginar-me transcendendo com grandiosidade. E todos dentro da farmácia se assustariam, dariam um passo para o lado, mas depois pensariam que é bom mesmo nos dias de hoje ser capaz de acreditar em alguma coisa. Deve ser realmente bom se apoiar fielmente em algo. Quando digo algo, falo justamente daquilo longe do palpável, que cresce insosso, invisível, ilimitado, incolor, dentro da gente. Que nunca irá embora, nem nos decepcionará - a não ser que estrangulado pelas nossas próprias mãos e vontade. Algo mais do que as pessoas e seus mil casos conflitos surtos sumiços. Que fique sob nosso controle - e assim permaneça até que nos canse ou não nos baste mais. Se não fôssemos tão assumidamente humanos, talvez encontraríamos algo que pudesse ser realmente eterno. Mas ao decorrer dos anos, em uma provável progressão geométrica, cresce em nós a vontade de destruir tudo. Às vezes, chegando até ao extremo, de destruirmos a nós mesmos.

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