sexta-feira, 12 de abril de 2013

Geografia dos corpos - ou vidas limitadas...

Jamais abandonar a poesia. Mas de vez em quando, diluir o que reage por dentro. Reencontrar o prazer do texto em sua trabalhosa prática. Tentativa de dar a mesma fluidez dos sentimentos às palavras.
Eu sempre soube que algo aconteceria. Maior que dor de dente, cotovelo ou decepção. Mesmo caminhando em linhas firmes, ou retas, mesmo seguro, eu sempre olhei para trás.
Ninguém pode ser merecedor de tanta sorte, pensava.
Deixe de ser pessimista, escutei.
Nunca irei me esquecer do caminho que fiz naquele dia – em que o mar se fez céu, e despencou.
As placas, as lojas, as portas abertas, os ipês. Nada nunca mais será o mesmo.
Eu repeti tantas vezes um mesmo pedido para “Deus” que, temo que, por isso ele tenha resolvido ignorar.
Meu Deus talvez só pertença a mim. Ele quem me põe a ninar e me tira o chão. Não sei se é por Deus que devo chamá-lo.  Mas chamo...
Peguei o caminho mais rápido – que pude visualizar no mapa da mente. Em menos de oito minutos, metade da cidade já tinha sido percorrida.
Inconscientemente, me achei capaz de impedir algo.
Naquele momento, nada era mais minha do que a ilusão de ser o centro do universo.
Não sei nem se eu falava com Deus, ou se falava comigo mesmo – achando, inclusive, que eu e ele éramos um.
Não se pode percorrer o mesmo rio duas vezes.
Isso porque um rio nunca é o mesmo.
Pois águas passam por ele e por nós – nos transformamos.
A cidade que conheci, não reconheço mais.
Não atravesso as mesmas ruas.
Não sou sequer quem escreveu a frase anterior. Daqui a pouco não serei quem escreveu essa.
Estar vivo é estar em mutação – grande novidade...
A existência, então, só se fixa após a morte?
Antes, só rascunhos e borrões.
Eu repetia, com as mãos no volante.
Meu consciente, o inconsciente.
Repetia em voz alta e voz nenhuma.
Por favor, faz alguma coisa...
O desespero contraía os pés, que descontavam no acelerador.
Eu falava com quem?
Desci correndo as escadas, o carro estava do outro lado da avenida. Não me preocupei em ver se vinha algum carro.
Joguei tudo no banco de trás.
E fui repetindo, a cada minuto...
Faz alguma coisa!
Não sei o que mais passou por minha cabeça.
Eu continuei tentando salvar alguém de algo sem saber nem o que.
O que é a morte?
Preciso ouvir de quem já a viu.
De quem realmente já sentiu ela de perto.
E não a falta  - lacuna - que ela deixa...

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