segunda-feira, 1 de abril de 2013

Contrações


“Nem a beleza nem a força podem te fazer feliz, nada resiste ao tempo”.



Como são engraçadas as coisas que fazem parte de cada um. Dia desses, lendo uma crônica, me apeguei, especialmente, a uma frase: “você encontra a beleza na solidão”. Pensei em anotar num pedaço de papel e deixar em cima da mesa, para lembrar depois. Fui reler o texto e descobri que a verdade é que eu tive pressa quando passei os olhos pela frase. E o que estava escrito ali, tinha um significado diferente do que lhe dei: “você encontra a beleza da solidão.

Um engano de contrações: o sentimento que eu achava ter encontrado ali não existia.
Tem que se ter muita sensibilidade para encontrar a beleza na solidão. Também como encontrar a beleza dela. Mas cada coisa é uma coisa, e a beleza nela e a beleza dela percorrem caminhos que eu considero distantes.
A solidão continua tendo um conceito vago. Aliás, continua sendo coisa demais, e ao mesmo tempo: coisa nenhuma. É uma dificuldade orgânica, impregnada, em tudo o que nos tira de nosso estado “natural”, e que não conseguimos enxergar, nem dar forma.
A beleza da natureza. A beleza da música. Da arte. De alguém. Do cinema francês. Da fotografia. Da mulher brasileira. Do expressionismo, do pôr-do-sol, do litoral brasileiro, do céu ensolarado, das cantigas de ninar, da pureza infantil. A beleza da solidão. Daquilo que é visto, e nos toca. Que é sentido. Daquilo que se torna brevemente presente – na lembrança, na frente dos olhos, ou no coração.
A beleza em alguém. A beleza na contradição. No Rio de Janeiro. No outono. Naquilo. A beleza do que pode ser - ou é - vivenciado. Naquilo em que estamos inseridos. Onde somos personagens, e não só público.
Se encontro a beleza na solidão, quero dizer que estou, imediatamente, nela. O que encontro, na verdade, fica agora em um plano secundário. E o que importa é perceber onde estou. Envolvido, emaranhado, enraizado – se duvidar... -, na solidão. Enquanto aquele a quem eu lia, apenas expressava um reflexo, uma reação, diante de sua presença.
Embora esteja comumente associada à tristeza, não é por ser solitário que sou triste. E vice-versa. Não é pela solidão que eu consideraria me atirar do primeiro penhasco. O que levaria a isso é uma série de outras muitas coisas. A solidão é bela porque sabe ser serena. Há beleza dentro dela. E beleza que emana dela. A arte é, muitas vezes, fruto da solidão de alguém. E que, a partir do momento em que é concebida, passa a ser parte da solidão de outros também.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Não vejo mal
No casual
Em ser fortuito
E eventual
Num desencontro
Ocasional
Dar-se-á o amor
Acidental.