Eu descobri, há pouco, que já te olhava, há muito. E fiquei
sem palavras. Sem saber como dizer o que nunca imaginei que diria. E fiquei sem
rumo – não que tenha, em algum momento, imaginado um caminho. Mas fui me
arrastando, feito bicho, para perto. E me enrolei, feito bicho, em suas pernas.
E me emaranhei, feito folhas que caem das árvores com o vento, nos seus
cabelos. E era natural, nisso de ser seu, ser natureza. Pois é na natureza das
coisas, que as coisas realmente estão. Existem. Em essência, e depois se
alongam, em existência. É natural que, de alguma maneira, eu queira existir em
você. É natural que, essencialmente, e por natureza, eu queira ser, em fato –
corpo - e em essência, de alguma forma, algo que exista em você.
Porque – e eu sempre me justifico – ao te olhar, eu absorvo
o mundo. Acredite, quando eu digo – embora, vez ou outra, sendo humano, minto -
o mundo, em si, é um universo, dentro
desse universo maior - que a gente estuda nas maquetes da escola - e pessoas
são mundos, planetas, e a vida feita de galáxias, e as superfícies de contato
onde os corpos – e essências – se encontram, astros. Os toques são estrelas! E
por isso, caem – como luva ou se despedaçam. Fico nervoso quando te falo mas,
por favor, me escute – caso queira, ignore, mas não me conte. Eu te olho e
através desse olhar que eu te recebo mundo. Um que só eu vejo. Porque eu te
recebo, agora, de uma forma, e mais tarde te receberia de outra, e nunca como
teria sido antes, nem como outra pessoa te recebe, ou receberia – porque expandimos
e nos remoldamos junto a esses universos. E só eu te vejo assim, mas não por te
querer te olhar tanto. Não por esse
querer descabido que me explode o peito e que me expande. Me sinto universo no
meu próprio mundo. E dessa maneira que enxergo - porque só eu te vejo assim –
vou e vasculho, pelos seus olhos, esse seu mundo. Por detrás dessas paredes,
íris, retina – desconheço a fisionomia dos olhos, mas enrolo -, uma parte caos
e um inteiro acaso. E eu caso, casaria, tão bem contigo. Porque entre poeira e
tinta descascada eu ainda vejo o seu brilho. E como brilha e me traz arrepios.
Eu te vejo e revejo todo esse caminho – um que eu nunca
decidi tomar, pois prefiro vinho. E te tomei pelos braços e te engoli e senti,
finalmente, a satisfação de estar cheio. Não de estar completo, não acredito
nisso. Somos sempre fragmentados. Mas enfim...você me encheu, e senti, ao longo
do meu corpo – como um todo, e parte por parte – sua presença me ocupando. Eu
te ingeri com os olhos, perpassei sua boca e te instalei no coração.
Daí, naturalmente, já não sei mais onde queria chegar, pois te olhei e fui feito bicho me emaranhar nos seus cabelos, e fui feito folha cair sobre seu colo e fui feito não sei nem por qual motivo, mas com certeza entre o caos e o acaso era para vir parar aqui... o natural seria que me instalasse da mesma forma. De qualquer maneira, em essência, existo e aguardo que me receba.
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