domingo, 27 de outubro de 2013

Fragmento X - ou sobre perder as contas

Eu descobri, há pouco, que já te olhava, há muito. E fiquei sem palavras. Sem saber como dizer o que nunca imaginei que diria. E fiquei sem rumo – não que tenha, em algum momento, imaginado um caminho. Mas fui me arrastando, feito bicho, para perto. E me enrolei, feito bicho, em suas pernas. E me emaranhei, feito folhas que caem das árvores com o vento, nos seus cabelos. E era natural, nisso de ser seu, ser natureza. Pois é na natureza das coisas, que as coisas realmente estão. Existem. Em essência, e depois se alongam, em existência. É natural que, de alguma maneira, eu queira existir em você. É natural que, essencialmente, e por natureza, eu queira ser, em fato – corpo - e em essência, de alguma forma, algo que exista em você.

Porque – e eu sempre me justifico – ao te olhar, eu absorvo o mundo. Acredite, quando eu digo – embora, vez ou outra, sendo humano, minto - o mundo,  em si, é um universo, dentro desse universo maior - que a gente estuda nas maquetes da escola - e pessoas são mundos, planetas, e a vida feita de galáxias, e as superfícies de contato onde os corpos – e essências – se encontram, astros. Os toques são estrelas! E por isso, caem – como luva ou se despedaçam. Fico nervoso quando te falo mas, por favor, me escute – caso queira, ignore, mas não me conte. Eu te olho e através desse olhar que eu te recebo mundo. Um que só eu vejo. Porque eu te recebo, agora, de uma forma, e mais tarde te receberia de outra, e nunca como teria sido antes, nem como outra pessoa te recebe, ou receberia – porque expandimos e nos remoldamos junto a esses universos. E só eu te vejo assim, mas não por te querer  te olhar tanto. Não por esse querer descabido que me explode o peito e que me expande. Me sinto universo no meu próprio mundo. E dessa maneira que enxergo - porque só eu te vejo assim – vou e vasculho, pelos seus olhos, esse seu mundo. Por detrás dessas paredes, íris, retina – desconheço a fisionomia dos olhos, mas enrolo -, uma parte caos e um inteiro acaso. E eu caso, casaria, tão bem contigo. Porque entre poeira e tinta descascada eu ainda vejo o seu brilho. E como brilha e me traz arrepios.

Eu te vejo e revejo todo esse caminho – um que eu nunca decidi tomar, pois prefiro vinho. E te tomei pelos braços e te engoli e senti, finalmente, a satisfação de estar cheio. Não de estar completo, não acredito nisso. Somos sempre fragmentados. Mas enfim...você me encheu, e senti, ao longo do meu corpo – como um todo, e parte por parte – sua presença me ocupando. Eu te ingeri com os olhos, perpassei sua boca e te instalei no coração.

Daí, naturalmente, já não sei mais onde queria chegar, pois te olhei e fui feito bicho me emaranhar nos seus cabelos, e fui feito folha cair sobre seu colo e fui feito não sei nem por qual motivo, mas com certeza entre o caos e o acaso era para vir parar aqui... o natural seria que me instalasse da mesma forma. De qualquer maneira, em essência, existo e aguardo que me receba.

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