Eu ando estas não-esquinas e elas continuam as mesmas. Eu continuo o mesmo. A dinâmica das coisas é a única coisa que mudou. Única e suficiente. Tão suficiente que até exagerada. A adega não é mais a mesma. A padaria mudou de dono. O boteco virou Igreja do Sétimo Dia. E a gente aqui - a gente daqui - agora morre de medo. Ninguém mais morre de outra coisa. Nem ataque cardíaco, nem velhice, nem atropelamento. Aqui gente só morre se for de medo. Morre de tanto ter do que desconfiar. Dói dos pés ao pescoço - os pés que aceleram para chegar mais rápido e se trancar loguinho em casa, o pescoço de tanto olhar de um lado para o outro. A dor de ouvido também é frequente, porque ninguém ousa perder sequer um agudo, muito menos um grave. A gente morre a cada dia, a qualquer suspeita de tudo.
A gente quer dinheiro,
mas tem medo de acabar.
A gente quer respeito,
mas tem medo de perder.
A gente quer calma,
mas tem medo da próxima tempestade.
A gente quer viver,
mas tem medo até disso.
2 comentários:
Muito bom!
não parece seu.
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