quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dentro.

Não há nada nela, nada para dintinguí-la dos protozoários, dos chipanzés, dos outros seres-humanos, dos porcos. Não há nada nela que me alegre - ou até me entristeça - de forma única. Nada de brilhante, que me faça subir pelas paredes ou implorar por mais um toque. Instintivamente, insisto. Como vivem a dizer que há sempre uma luz no fim do túnel, procuro e procuro pelos buracos - até então sem saída - dela. Eu me canso. São nesses momentos em que a vejo como um parasita. Um intruso. Não abri a porta, mas entrou, se alojou e vive a tentar tomar conta de mim. Como se poetas pudessem ser domados. Não que eu me considere um, é claro. Seria por demais presunçoso. Mas eu tenho a certeza de que não sou um cavalo, nem um mico. Quero dizer que me rebelo, e não é um ser medíocre de pouco mais de um metro e meio que fará com que eu me finja de morto e lamba seus pés nos fins de tarde. Primeiro que seus dedos são feios, meio tortos, nada simétricos. Suas unhas também não são das mais bens cuidadas, e a verdade é que há um mal cheiro que fica impregnado bem distante. Segundo que talvez seus pés sejam lindos, ou até perfeitos, mas o que eu quero é achar dispariedades, inconsistências, para que eu possa fugir sem deixar um telefone de contato, ou endereço. É que eu cresci achando que todo sentimento deveria ser o maior do mundo. E agora estou frente e frente com uma toalha de mesa florida e contas de água e luz. Não há paixão ou euforia que resista à realidade. É que todo beijo deveria arrancar suspiros e agora durmo abraçado com um corpo que nunca imaginei, ou desejei - sem antes tê-lo. E ainda dizem que existem pessoas que não são cruéis. Mas é que se não fosse a necessidade humana, eu estaria muito bem sem ela. Todos estaríamos muito bem sozinhos. Talvez uma foda ou outra para descarregar um pouco do peso que, hoje, parece ser impossível suportar com um só par de braços. Se eu pudesse ter previsto que a vida, querendo ou não, seria sempre assim tão medíocre, eu não teria alimentado a espera por amores descontrolados e agressivos. E hoje eu aceitaria dormir só com um bicho de pelúcia ou uma garrafa de rum. A gente envelhece e vai percebendo que passou todo o tempo esperando que a vida começasse. Passou todo e tanto tempo que sequer percebeu quando ela começou. Mas isso se dá, também, porque a vida não se difere muito das outras coisas. É um mingau de aveia, sem gosto, nem cor. Uma poça de lama, que não anima, nem reflete. Uma pedrinha tão pequena no chão que ninguém nem tem a vontade de chutar. Não há nada nela que me dê força. Ou que enfraqueça meus joelhos. Nada nela que me faça ir adiante. Ou querer voltar no tempo. Nada nela que me desperte. Ou que me deixe no estado constante de quem, sábio, sonha acordado. Não há nada meu nela. Mas não consigo, também, tirá-la de mim.

4 comentários:

Anônimo disse...

putaqueopariu

Julianna Motter disse...

Isso é bom ou ruim?

Anônimo disse...

Foda, é o mínimo. De uma maneira boa, mas ruim.

Anônimo disse...

É muito bom!