sexta-feira, 29 de outubro de 2010

W2.

Você se foi. E eu chorava, e gritava, como se algum membro estivesse sendo amputado à sangue frio, sem anestésico ou sem que eu pudesse apertar forte uma mão. E me doía tanto. E me doía de um jeito tão forte e tão vivo. Que, pela primeira vez, me senti perto do céu. Você se foi, e eu te vi virando as costas para mim e ficando de frente para ele, subindo nas pontas dos pés, colocando as mãos por detrás do pescoço dele, e selando um compromisso renovado. Você se foi e eu me senti traído. Enganado, despedaçado, incompleto, eu me senti como se você fosse propriedade minha, com meu nome gravado em alto relevo em sua pele parda. E minha infelicidade quis chegar perto e construir uma sua, chegar perto e te puxar pelo braço. E dizer que você era minha, não importando se você não soubesse. Que era minha porque eu escolhi e decidi sozinho. Que eu-não-te-deixo-ir-embora, que você-precisa-dos-meus-braços-dos-meus-beijos-dos-meus-espasmos. Mas seu sorriso foi, pela primeira vez, tão branco. Que eu pude até pensar que, apesar de mim, era ali que você queria estar. Mesmo antes tendo me procurado, e apenas comentado sobre o dia, e eu tendo entendido que você só sentiu vergonha de dizer que me descobriu depois de tanto tempo, assim por acaso. Eu só via o que queria ver, ou algo asssim. Vocês saíram de mãos dadas, e minha vontade maior era pegar o carro e ir atrás, buzinar para que você me visse, e entrelinhas pedisse por uma palavra. Eu queria te puxar para mim, consciente de que meu buraco era negro, e que podia te encontrar e te perder para sempre. Eu fiquei parado, estático, mortificado. E depois chorei. Eu fiquei chorando dores de um amor que nunca foi meu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sinto falta

Julianna Motter disse...

Do que?

Anônimo disse...

De sentir...
"me doía tanto. E me doía de um jeito tão forte e tão vivo. Que, pela primeira vez, me senti perto do céu. "