segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um Mundo Só de Cores.

O ruído da madeira deslizando pelo mármore ficará, para sempre, como um velho rádio esquecido ligado ao longo das minhas lembranças. Para todas as lembranças ligadas a ela.
Acho que a falta nos deixa ainda mais egocêntricos, e dá a ilusão de sermos capazes de remontar o passado; de tornar toda impressão positiva; transformar tudo em beleza.
Muitas vezes esqueço que ter beleza nem sempre significa ser belo. A beleza é uma capa que, de antemão, colocamos para não ter que ver o que há por baixo.
Digo, isto se houver algo por baixo...
Se eu tivesse que apontar uma cor, seria azul.
Tudo, agora, é azul.
A morte é azul.
E a sua chegada não envolve escândalos, óculos escuros, nem mãos dadas debaixo de guarda-chuvas. Ninguém se veste de preto. Ninguém passa meses sem conseguir levantar da cama. Ninguém arranha a pele de tanto colher choro.
A morte acontece, e depois some.
Ela não é uma ruptura no tempo. Ela é uma exclamação. Um choque. Mas depois as frases continuam.
O que fica é a ausência. É o armário de roupas a ser desmembrado. As fotos a serem revistas. Algumas coisas a serem encontradas.
Fica uma busca por aquilo que nem se sabia perdido.
A falta!
A dor?
Sobre a dor, não sei nem qual o uso dessa palavra.
Porque não é bem uma dor.
É algo que coça, mas não exatamente machuca. É algo que existe quase que paralelo ao resto. E permanece assim, te assistindo de longe.
Alguma coisa que se esconde. Que faz os olhos lacrimejarem. Que faz bater uma saudade...
Não é por ser saudade que precisa ser triste.
Não é por ter envolvido tristeza que será assim para sempre.
Não quero abaixar a cabeça, nem perguntar o que há de errado com o mundo.
Está tudo certo.
Mas por que comigo?
Por que agora?
Perguntei, repeti, mas nem quero saber a resposta.
Eu nem queria ter perguntado.
Mas é que escutei tantas vezes erguerem a voz com coisas do tipo...
Por que, meu Deus?!
Que egoísta, imagine, se eu quisesse que algo assim acontecesse com um outro.
Eu gosto das coisas assim, azuis. Das coisas tão claras! Das coisas pequenas parecendo ainda mais bobas. De ser capaz de separar a bobeira das coisas...
Eu gosto da saudade que me faz pegar o telefone e lembrar que já não tem mais número...
Antes eu precisaria pegar o carro, enfrentar o trânsito, driblar a recepção, subir quatro lances de escada, adentrar um corredor de salas até descobrir qual a certa, para trocar duas palavras apressadas, e partir.
Agora que tudo é azul, sereno, eu só caminho contigo.

2 comentários:

Gabriela Arzabe Lehmkühl disse...

Bem lindo!

Anônimo disse...

Julianna, obrigada por esse texto.