Não. Eu estou te escrevendo porque há tempos não escrevo. Nem para você, nem para qualquer outra pessoa. Não tenho encontrado tempo para deixar o café esfriar ao lado do computador. A demanda de trabalho, na verdade, continua a mesma. Uma coluna por semana, dois comentários diários, e umas resenhas que surgem quando se enganam achando que entendo de alguma coisa. Tenho me ocupado integralmente em me distrair. Em não me deixar sozinho comigo mesmo. Só Deus - se ele existir, é claro - sabe do perigo que represento agora. Ouvi, esses dias, meu irmão mencionando a palavra "suicídio" uns passos atrás do meu nome. "Suicídio", mas que palavra boba para acobertar um ato que exige tanta coragem. Que palavrinha sem graça. Eu consigo imaginar mil e uma outras que capazes de expressar, ao menos, um terço a mais da vastidão desse sentimento. Sim, suicidar-se é como amar-se. Um sentimento, que vira verbo, e que parece egocentrado. Mas não é. "Eu me amaria", "eu me enciumaria" e, finalmente, "eu me suicidaria". No caso: eu me livraria de mim mesmo. Acho, ainda, que não por falta de amor próprio. Talvez se auto-valorizar demais. Eu me livraria do mundo. Talvez isso, quem sabe...quem sabe? Não eu.
Embora pareça, e já tenha sido mencionada a possibilidade, eu não a avalio como real. Não está entre minhas pretensões. Me amo, ainda. De alguma forma bem imprecisa, mas amor sim, claramente ele.
Aliás, reconsidero o que disse antes: suicídio pode ser amor demais, mas também, pode ser logo o oposto: ódio de fazer pulsar os olhos.
Enfim, o que eu poderia fazer, contra mim mesmo, ainda não está claro. E temo, justamente, por não poder definir uma estratégia de saída.
"Por que foi experimentar o café logo hoje?".
Sabe que eu ficaria bem deitado perto das prateleiras de livros infanto-juvenil?
Eu acredito, e ainda coloco minhas mãos no fogo, que tudo acontece quando e onde tem que acontecer.
E daí que se passaram dois anos? Talvez a poeira da gaveta tenha apurado o sabor. Quem sabe na época não fosse me agradar.
Vai que tudo em mim amadureceu...
Escrevi uma matéria a respeito do consumo de colágeno essa semana, fiquei inconsolável ao perceber que negligenciei algo tão essencial. Parece que com os anos eu aprendi a ignorar mais coisas do que a apreciar.
Mal me lembro daquela noite.
Apaguei até o rosto dela.
É que a lembrança - às vezes instrumento de paz - é capaz de machucar tanto.
Têm dias que largo todo o trabalho só para abrir a janela do escritório e olhar para baixo. São vinte e dois andares - contando daqui para baixo -, mais de 400 salas, cheios de pessoas que mal se sabem ali. Concreto e concreto, acabamentos e grampeadores, que nos impedem de notar qualquer sinal de humanidade.
Humanidade: capacidade de ser humano.
Parece, ainda, que estou vivendo um sonho.
Desde que você anunciou a gravidez.
Sua barriga espremidinha foi se adaptando a um outro viver.
E o poder sentir o seu amor junto ao amor por ela.
E o dia em que ela abriu os olhos?
O número de vezes que ligaram da escola.
Você não podia buscar. Nem eu.
Não estávamos presentes nem quando ela tirou a carteira.
Sabe que a vida sempre passa assim, sem qualquer pretensão de se tornar eterna? A própria vida tem pressa de acabar.
E a gente aqui achando que ainda vai ser alguém no mundo.
Não sei em que momento deixamos de ser amor para virar compromisso.
Dói tanto imaginar que aquele sorriso já não é mais dela.
Que as coisas nos preenchem tanto e, de repente, nem existem mais.
Eu sinto muito por não ter perguntado o que achou da comida indiana.
Eu sinto muito por não ter coragem.
Eu sinto muito por não ter estado lá.
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